B. Os Maharajas – história e
encontro com um português
a) Os governantes do Oriente: Maharajas

Existem muitos mitos e lendas em torno das vidas das personagens fantásticas que eram os grandes reis da Índia, que governaram as diversas regiões do sub-continente antes da invasão imperial britânica. Os Maharajas eram uma tradição enraizada na cultura védica desde tempos imemoriais. Sob o patrocínio dos Maharajas, a Índia tornou-se uma das grandes civilizações do mundo, rica em história, arte, cultura, misticismo e espiritualidade.
Maharaja é um termo que significa "grande rei". O seu equivalente feminino é "Maharani" e "majarani", que pode ou ser a mulher do Governador ou, quando tal é permitido, a senhoras que estão no poder. Os príncipes de sangue são Maharaj Kumar, que significa "filho de um maharaja" e Maharaj Kumari, "filha de um Maharaja". Os Maharajas são sempre os primogénitos da primeira esposa.
Com o enfraquecimento do império Mogul na Índia (século XVIII), surgiram reinos independentes dentro do seu antigo território. Os senhores feudais, que governaram esses estados foram geralmente conhecido como Rajahs (Reis) quando eram hindus e nababos (delegados), quando eram muçulmanos.
Maharaja é um termo que significa "grande rei". O seu equivalente feminino é "Maharani" e "majarani", que pode ou ser a mulher do Governador ou, quando tal é permitido, a senhoras que estão no poder. Os príncipes de sangue são Maharaj Kumar, que significa "filho de um maharaja" e Maharaj Kumari, "filha de um Maharaja". Os Maharajas são sempre os primogénitos da primeira esposa.
Com o enfraquecimento do império Mogul na Índia (século XVIII), surgiram reinos independentes dentro do seu antigo território. Os senhores feudais, que governaram esses estados foram geralmente conhecido como Rajahs (Reis) quando eram hindus e nababos (delegados), quando eram muçulmanos.

O termo “Índia Britânica” é a denominação não oficial para o domínio colonial do Império Britânico sobre o sub-continente indiano, aqui entendido como a área geográfica que inclui os territórios actuais de Índia, Paquistão, Bangladesh (ex-Paquistão Oriental) e Mianmar (antes chamado "Birmânia"). Pode ser designado também pelo termo Raj Britânico, do hindustâni rāj, "reino". No tempo, corresponde a um período desde 1858, quando os direitos da Companhia Britânica das Índias Orientais foram transferidos para a coroa britânica, até 1947, ano em que o Reino Unido passou a soberania sobre aquele território para os recém-criados Índia e Paquistão.
Do ponto de vista formal, o termo "Índia britânica" aplicava-se apenas às porções do sub-continente governadas directamente pela administração britânica em Delhi e, anteriormente, Calcutá. A maior parte do território do sub-continente sob influência britânica naquela época não era governada directamente pelos britânicos: os chamados "Estados principescos" eram nominalmente independentes, governados pelos seus marajás, Rajahs, thakurs e nababos, que reconheciam o monarca britânico como seu suserano feudal por meio de tratados.
Do ponto de vista formal, o termo "Índia britânica" aplicava-se apenas às porções do sub-continente governadas directamente pela administração britânica em Delhi e, anteriormente, Calcutá. A maior parte do território do sub-continente sob influência britânica naquela época não era governada directamente pelos britânicos: os chamados "Estados principescos" eram nominalmente independentes, governados pelos seus marajás, Rajahs, thakurs e nababos, que reconheciam o monarca britânico como seu suserano feudal por meio de tratados.

De facto, o império Britânico não governou a totalidade do sub-continente. No seu vasto território subsistiram reinos independentes, cujos governantes exerciam os títulos de Maharaja e Nawab. A independência desses "estados principescos" foi nominal, porque eles estavam sujeitos a dominação económica, cultural e política da Inglaterra.
Os Maharajas eram, portanto, reis da Índia a um nível muito local e cada região ou grande cidade teve o seu Maharaja. Eles foram o auge do sistema político indiano durante muitos anos. Quando os britânicos chegaram, os Maharajas foram assimilando a sua cultura, e foram perdendo gradualmente o seu poder, passando o seu título a ser meramente honorário.
Finalmente, com a independência da Índia, os Maharajas perderam quase tudo o que ainda possuíam. Ao abrigo de um acordo com o governo indiano, puderam manter os seus títulos e mantiveram o direito a habitar nos seus palácios, desde que os preservassem, sendo que, ainda assim, a sua propriedade pertencia ao Estado.
Os Maharajas eram, portanto, reis da Índia a um nível muito local e cada região ou grande cidade teve o seu Maharaja. Eles foram o auge do sistema político indiano durante muitos anos. Quando os britânicos chegaram, os Maharajas foram assimilando a sua cultura, e foram perdendo gradualmente o seu poder, passando o seu título a ser meramente honorário.
Finalmente, com a independência da Índia, os Maharajas perderam quase tudo o que ainda possuíam. Ao abrigo de um acordo com o governo indiano, puderam manter os seus títulos e mantiveram o direito a habitar nos seus palácios, desde que os preservassem, sendo que, ainda assim, a sua propriedade pertencia ao Estado.
c) Encontro com um português

O Maharaja de Gwalior , Madho Rao Scindia, tinha uma fortuna incalculável. Um dos membros de uma das várias famílias portuguesas que ainda viviam na Índia em finais do século XIX, inícios do século XX, manteve contacto profissional com este Maharaja. Como engenheiro, trabalhava nas terras do maharaja projectando e construindo uma via de caminhos de ferro.
Ao seu amigo engenheiro, explicou que a resistência dos vários pisos dos palácios foi testada com uma manada de elefantes.
A tal ponto se deram bem que, depois de muita convivência, o Maharaja chamou o seu amigo português e disse-lhe: "A nossa relação é grande. És meu irmão. Quero que aceites o convite de partilhar comigo todas as fortunas que eu tenho. Quero que a tua família se venha instalar nos meus palácios e tudo o que eu possuir, considera-o também como teu. Há apenas uma condição, que espero que não venha a ser obstáculo: nunca mais poderás trabalhar."
Este pais de vários filhos regressou algum tempo depois para portugal, prosseguindo a sua carreira profissional no seu país.
Ao seu amigo engenheiro, explicou que a resistência dos vários pisos dos palácios foi testada com uma manada de elefantes.
A tal ponto se deram bem que, depois de muita convivência, o Maharaja chamou o seu amigo português e disse-lhe: "A nossa relação é grande. És meu irmão. Quero que aceites o convite de partilhar comigo todas as fortunas que eu tenho. Quero que a tua família se venha instalar nos meus palácios e tudo o que eu possuir, considera-o também como teu. Há apenas uma condição, que espero que não venha a ser obstáculo: nunca mais poderás trabalhar."
Este pais de vários filhos regressou algum tempo depois para portugal, prosseguindo a sua carreira profissional no seu país.

A filha deste português apresenta um artigo escrito pelo próprio pai:
“Contava o Pai que o palácio do Maharaja não tinha descrição, parecia um conto das mil e uma noites. Um parque imenso com oito ou dez palácios, lagos, tanques, mirantes, etc… No palácio dele havia imensa riqueza, magnificências da verdadeira Índia dos Rajahs, mas ao mesmo tempo todo o luxo e conforto europeus, mobílias, cristais e…tapetes! Nas garagens, havia mais de 40 automóveis (nesse tempo, 1915) de todas as marcas e feitios.
O pai estava hospedado num dos palácios, que era só para hospedes, e tinha só para si quarto, salinha, quarto de vestir, quarto de malas e quarto de banho, que era um “poema”, dizia o pai. E havia assim para 38 hóspedes.
Nos jardins, imensos pavões, etc…Assistiu a uma festa “Dossoro” com um cortejo lindo, carruagens magníficas, palequins riquíssimos, de príncipes, cada um com o seu séquito, ricos e espalhafatosos, muitos elefantes lindamente ajaezados com colchas, pratas e jóias, camelos, etc…! No fim, vinha o Maharajah precedido dum esquadrão de lanceiros vestidos à moderna com belos cavalos. O rajah também foi a uma festa num pagode, mas foi de elefante, a cadeira era de oiro maciço, o cortejo era de uns vinte ou trinta elefantes. O Estado de Gwalior tinha infantaria, cavalaria e artilharia. Tenho ideia que era um exército de 12.000 homens.
“Contava o Pai que o palácio do Maharaja não tinha descrição, parecia um conto das mil e uma noites. Um parque imenso com oito ou dez palácios, lagos, tanques, mirantes, etc… No palácio dele havia imensa riqueza, magnificências da verdadeira Índia dos Rajahs, mas ao mesmo tempo todo o luxo e conforto europeus, mobílias, cristais e…tapetes! Nas garagens, havia mais de 40 automóveis (nesse tempo, 1915) de todas as marcas e feitios.
O pai estava hospedado num dos palácios, que era só para hospedes, e tinha só para si quarto, salinha, quarto de vestir, quarto de malas e quarto de banho, que era um “poema”, dizia o pai. E havia assim para 38 hóspedes.
Nos jardins, imensos pavões, etc…Assistiu a uma festa “Dossoro” com um cortejo lindo, carruagens magníficas, palequins riquíssimos, de príncipes, cada um com o seu séquito, ricos e espalhafatosos, muitos elefantes lindamente ajaezados com colchas, pratas e jóias, camelos, etc…! No fim, vinha o Maharajah precedido dum esquadrão de lanceiros vestidos à moderna com belos cavalos. O rajah também foi a uma festa num pagode, mas foi de elefante, a cadeira era de oiro maciço, o cortejo era de uns vinte ou trinta elefantes. O Estado de Gwalior tinha infantaria, cavalaria e artilharia. Tenho ideia que era um exército de 12.000 homens.

O pai foi recebido lindamente, foram todos amabilíssimos. Maharajah incluído, e ficou bastante desconsolado. Estava muito animado pensando que o seu “cunhado”, como ele dizia, Strogy”, lhe arranjasse um lugar. Podia lá ficar o tempo que quisesse, mesmo com a família, mas emprego não havia.
Quando o pai foi cumprimentar o Maharajah quasi tropeçou numa pantera (se a memória não me falha, negra) que ele tinha junto de si.
O jornal “O comércio do Porto”, de 11 de Dezembro de 1915 traz uma notícia sobre esta viagem do pai a Gwalior, evidentemente escrita por ele e faz parte de uma carta que escreveu à mãe, datada de 17 de Outubro:
Quando o pai foi cumprimentar o Maharajah quasi tropeçou numa pantera (se a memória não me falha, negra) que ele tinha junto de si.
O jornal “O comércio do Porto”, de 11 de Dezembro de 1915 traz uma notícia sobre esta viagem do pai a Gwalior, evidentemente escrita por ele e faz parte de uma carta que escreveu à mãe, datada de 17 de Outubro:

«Na Índia, visita a um Maharajah
Um nosso distinto compatriota e amigo descreve assim, numa interessante carta, a sua recente visita ao Maharajah de Gwalior: saí de Bombaim na quinta-feira, num “Punjab Mail”. O combóio vinha cheio, de maneira que viajei com um oficial inglês e um japonês na mesma cabina: mas como estas são muito grandes e boas, vim muito bem. Cheguei aqui na sexta-feira, às 3 horas da tarde; estava um calor de abrasar, positivamente.
À tarde dei uma volta de carruagem pela cidade, que é muito grande e tem edifícios maravilhosos, género Delhi, mas aqui não há mármore, é tudo uma pedra esbranquiçada, um grés fino e duro. O que é assombroso são os rendilhados no género do screen, do Taj-Mahal, em Agra, mas mais bem feito, se é possível ainda. Dá um aspecto verdadeiramente feérico à terra. Há uma porção de edifícios novos em todos os estilos: índio, mourisco, grego clássico, Renascença, etc…Sumptuoso! Enfim, vê-se que é uma terra rica e governada com pompa e ostentação, característica destes príncipes indianos. Tudo iluminado a luz eléctrica, carreiras de automóveis, etc…
Um nosso distinto compatriota e amigo descreve assim, numa interessante carta, a sua recente visita ao Maharajah de Gwalior: saí de Bombaim na quinta-feira, num “Punjab Mail”. O combóio vinha cheio, de maneira que viajei com um oficial inglês e um japonês na mesma cabina: mas como estas são muito grandes e boas, vim muito bem. Cheguei aqui na sexta-feira, às 3 horas da tarde; estava um calor de abrasar, positivamente.
À tarde dei uma volta de carruagem pela cidade, que é muito grande e tem edifícios maravilhosos, género Delhi, mas aqui não há mármore, é tudo uma pedra esbranquiçada, um grés fino e duro. O que é assombroso são os rendilhados no género do screen, do Taj-Mahal, em Agra, mas mais bem feito, se é possível ainda. Dá um aspecto verdadeiramente feérico à terra. Há uma porção de edifícios novos em todos os estilos: índio, mourisco, grego clássico, Renascença, etc…Sumptuoso! Enfim, vê-se que é uma terra rica e governada com pompa e ostentação, característica destes príncipes indianos. Tudo iluminado a luz eléctrica, carreiras de automóveis, etc…

À noite, o Sotrogy apresentou-me a um príncipe Khachar, ajudante de campo do Rajah, que fala inglês perfeitamente e tem sido amabilíssimo comigo. Hontem, sábado, este príncipe fez-me visitar o palácio. Lá isso é que eu não sei descrever; parece-me um conto das mil e uma noites! Há um parque imenso, admiravelmente tratado: no meio disto, espalhados uns seis ou oito palácios, lagos, tanques, mirantes, etc…Género palácio de Delhi: não tão rico, mas dez a quinze vezes maior; é uma coisa fenomenal. Visitei o palácio propriamente dito, onde reside o Maharajah: é uma coisa imensa e onde se acham empilhadas todas as riquezas e magnificências da Índia, da verdadeira e autêntica Índia dos Rajahs, juntas a todos os confortos, luxos e requintes da civilização europeia. Que bronzes! Que mobílias! Que cristais e, sobretudo, tapetes! O da sala do Durbhar custou 62.000 rupias! Mas isto tudo em profusão, por toda a parte um luxo e uma riqueza que chegam a fazer impressão e que levariam semanas a ver detalhadamente.

Visitei os jardins, a garage, onde há quarenta e tantos autos de todas as marcas e feitios, etc…Entre outras coisas, visitei a guest-house, para onde vim hoje com armas e bagagens. Esta casa de hospedes do Maharajah, só por si, seria em qualquer parte uma coisa admirável. É um palácio enorme rodeado de magníficos jardins, peças de água, estátuas, etc..Está dentro dos terrenos do palácio. Tenho aqui uma suite composta de um magnífico quarto de cama, uma saleta, quarto de toilette, quarto de malas e um quarto de banho que é um poema! Chão de mármore, banheira grande, banhos de chuva, lavatórios de louça, grandes torneiras de água quente e fria, enfim, o cunho da higiene, comodidade e limpeza. Os outros quartos todos mobilados e arranjados com o maior luxo e conforto e todos com uns tapetes, mas que tapetes! Imaginem que nesta casa de hóspedes há trinta e oito suites iguais a esta: fora, é claro, salas de recepção e jantar, tudo isto a dizer: varandas, terraços, tudo, enfim. Estou, como vê, instalado como um príncipe. Enorme quantidade de pavões e ratos de palmeira (esquilos).

O Rajah só chegou ontem: veio para a festa do “Dossoro”, que é hoje. Já pela manhã assisti a uma parte do cerimonial. Pela manhã fui à adoração de armas; espadas, espingardas, artilharia, etc…no pagode. Fui para lá com o tal príncipe Khashar; mas, é claro, não fui dentro, porque nenhum estrangeiro é admitido às grandes solenidades religiosas: fiquei fora a ver o cortejo. Que cortejo! Carruagens magníficas, palanquins riquíssimos, de príncipes e nobres, cada um com o seu séquito, rica e espalhafatosamente vestidos. Muitos elefantes com riquíssimos aparelhos, cobertos de magníficas colchas, pratas e até jóias. Camelos, idem. No fim, o Maharajah de carroça de gala, tirada a três parelhas, precedido de um esquadrão de lanceiros antigos, com o uniforme tradicional, de escudo e lança e seguido de dois esquadrões também de lanceiros, mas armados e equipados à moderna: à inglesa, mas com fardas bonitas. Vinham muito bem, a quatro, à carga, belos cavalos, manobras regulares, faziam uma linda vista. Não posso descrever tudo isto porque levaria muito tempo e precisava de mais habilidade literária do que aquela de que disponho; mas tirei muitas fotografias. À tarde, o Maharajah e todo o séquito vão fazer a adoração a uma deusa qualquer: há um grande cortejo com elefantes…

Fui interrompido no domingo pelo príncipe Khachar, que me veio buscar para ver a segunda parte da festa. Muito interessante. O Rajah foi de auto para o pagode, e lá montou elefante e segui para o pagode da tal deusa, que é no campo, a duas milhas daqui. Não imagina o que é o arreio do elefante do Rajah: a cadeira, de ouro maciço, e tudo o resto ouro, e mais ouro, uma coisa assombrosa! No cortejo, iam ao todo uns vinte ou trinta elefantes, todos magnificamente ajaezados, mas nenhum como o do Rajah. Passaram por um grande campo aonde estavam formadas as tropas do Estado, doze mil homens de infantaria, artilharia e cavalaria; muito bonito e imponente e gostei muito de ver.
À noite o príncipe mandou-me dizer que o Rajah me receberia no dia seguinte. Lá fui: o Rajah recebeu-me com as máximas atenções, muito simplesmente, falou-se em muitas coisas: Goa, caça, Portugal e coisas portuguesas, que, etc…
Fui visitar o forte, que é interessantíssimo: e como não se pode ir lá acima de carro, dei o meu primeiro passeio de elefante. Digo-lhe que não é nada agradável; andei umas três horas e fiquei farto; mas gostei muito de ver o forte e o antigo palácio.
Chego agora a Bombaim e parto amanhã para Poona.”
À noite o príncipe mandou-me dizer que o Rajah me receberia no dia seguinte. Lá fui: o Rajah recebeu-me com as máximas atenções, muito simplesmente, falou-se em muitas coisas: Goa, caça, Portugal e coisas portuguesas, que, etc…
Fui visitar o forte, que é interessantíssimo: e como não se pode ir lá acima de carro, dei o meu primeiro passeio de elefante. Digo-lhe que não é nada agradável; andei umas três horas e fiquei farto; mas gostei muito de ver o forte e o antigo palácio.
Chego agora a Bombaim e parto amanhã para Poona.”