Goa - "Roma do Oriente"
Esta é a parte mais desenvolvida do site.
Chamo a atenção para o facto haver fotografias com comentários bastante extensos. Alerto também para o facto de os dois historiadores citados (Pedro Dias e José Mattoso) se referirem ao mesmo território de forma diferente. Pedro Dias fala de “Bardês”, ao passo que José Mattoso escreve “Bardez”. Em último lugar, eu próprio fiquei indeciso (pelo que peço ajuda a quem me conseguir solucionar este problema), ao verificar que Elaine Sanceau refere o “Idalcão, filho do aventureiro turco-persa Yusuf Adil Khan”, enquanto que José Mattoso aborda um “Adil Khan, o sultão de Bijapur que os portugueses designavam por Hidalcão”.
1. Goa antes da chegada dos portugueses – excertos do livro “De Goa a Pangim – Memórias tangíveis da capital do Estado Português da Índia”, de Pedro Dias;
2. Descrição de Goa por dois quinhentistas;
3. Descrição da relação dos goeses com os portugueses no tempo, com base no livro de Elaine Sanceau, “Recortes de pequena história”;
4. Velhas Conquistas e Novas Conquistas, com base em excertos retirados excertos da obra “Património de origem portuguesa no mundo”, de José Mattoso;
5. Velha Goa;
6. Nova Goa ou Pangim
Chamo a atenção para o facto haver fotografias com comentários bastante extensos. Alerto também para o facto de os dois historiadores citados (Pedro Dias e José Mattoso) se referirem ao mesmo território de forma diferente. Pedro Dias fala de “Bardês”, ao passo que José Mattoso escreve “Bardez”. Em último lugar, eu próprio fiquei indeciso (pelo que peço ajuda a quem me conseguir solucionar este problema), ao verificar que Elaine Sanceau refere o “Idalcão, filho do aventureiro turco-persa Yusuf Adil Khan”, enquanto que José Mattoso aborda um “Adil Khan, o sultão de Bijapur que os portugueses designavam por Hidalcão”.
1. Goa antes da chegada dos portugueses – excertos do livro “De Goa a Pangim – Memórias tangíveis da capital do Estado Português da Índia”, de Pedro Dias;
2. Descrição de Goa por dois quinhentistas;
3. Descrição da relação dos goeses com os portugueses no tempo, com base no livro de Elaine Sanceau, “Recortes de pequena história”;
4. Velhas Conquistas e Novas Conquistas, com base em excertos retirados excertos da obra “Património de origem portuguesa no mundo”, de José Mattoso;
5. Velha Goa;
6. Nova Goa ou Pangim

Para a descrição da fotografia, recorro à imperdível obra de Pedro Dias, "De Goa a Pangim, Memórias tangíveis da Capital do estado Português da Índia".
Convento de Santo Agostinho - "Os Agostinhos tiveram na Índia o seu momento mais alto durante o tempo de D. Aleixo de Meneses, que pertencia a esta ordem. São do seu tempo os grandes edifícios que subsistem, no todo ou em parte, na cidade de Goa. O que resta hoje da igreja do Convento de Santo Agostinho é uma impressionante e vastíssima ruína, mas pode através dela perceber-se a grandiosidade que teve o complexo monástico e as dimensões excepcionais da sua formidável igreja da invocação de Nossa Senhora da Graça. (...) A fundação desta casa remonta ao ano de 1572, quando 12 religiosos, sob a direcção de frei António da Paixão levantaram as paredes de um primeiro mosteiro. Anos volvidos, em 1597, foi iniciado o definitivo, sob a invocação de Nossa Senhora da Graça, padroeira dos eremitas caçados de Santo Agostinho. (...)
Temos também a informação de que as paredes estavam parcialmente forradas com azulejos, cujas marcas são aliás bem visíveis em muitos pontos das ruínas, tendo sido aproveitados alguns para outras construções, podendo ver-se nomeadamente no frontal de altar da sacristia da Casa Professa do Bom Jesus. São claramente identificáveis como lisboetas, de tapete e rica policromia, feitos em meados do século XVIII. (...)
O Convento de Santo Agostinho tinha também uma zona comum, com amplos dormitórios, refeitório, hospedaria, enfermaria, etc., completando-se esta zona habitacional de vários andares com quatro capelas: a dos provinciais, a dos priores, a de Nossa Senhora do Rosário e a de Nossa Senhora da Assunção."
Convento de Santo Agostinho - "Os Agostinhos tiveram na Índia o seu momento mais alto durante o tempo de D. Aleixo de Meneses, que pertencia a esta ordem. São do seu tempo os grandes edifícios que subsistem, no todo ou em parte, na cidade de Goa. O que resta hoje da igreja do Convento de Santo Agostinho é uma impressionante e vastíssima ruína, mas pode através dela perceber-se a grandiosidade que teve o complexo monástico e as dimensões excepcionais da sua formidável igreja da invocação de Nossa Senhora da Graça. (...) A fundação desta casa remonta ao ano de 1572, quando 12 religiosos, sob a direcção de frei António da Paixão levantaram as paredes de um primeiro mosteiro. Anos volvidos, em 1597, foi iniciado o definitivo, sob a invocação de Nossa Senhora da Graça, padroeira dos eremitas caçados de Santo Agostinho. (...)
Temos também a informação de que as paredes estavam parcialmente forradas com azulejos, cujas marcas são aliás bem visíveis em muitos pontos das ruínas, tendo sido aproveitados alguns para outras construções, podendo ver-se nomeadamente no frontal de altar da sacristia da Casa Professa do Bom Jesus. São claramente identificáveis como lisboetas, de tapete e rica policromia, feitos em meados do século XVIII. (...)
O Convento de Santo Agostinho tinha também uma zona comum, com amplos dormitórios, refeitório, hospedaria, enfermaria, etc., completando-se esta zona habitacional de vários andares com quatro capelas: a dos provinciais, a dos priores, a de Nossa Senhora do Rosário e a de Nossa Senhora da Assunção."

Rio Mandovi
1. Goa antes da chegada dos portugueses – excertos do livro “De Goa a Pangim – Memórias tangíveis da capital do Estado Português da Índia”, de Pedro Dias
Cito, então, Pedro Dias:
“(…) a história de Goa não começou com a chegada dos Portugueses; a cidade tinha um passado rico e com algumas épocas de brilho, documentadas quer nas fontes orientais quer nas portuguesas, e também testemunháveis por vestígios arqueológicos. O mesmo se diga dos territórios de Salcete e Bardês, e também das chamas Novas Conquistas, incorporadas em pleno século XVIII. No século II da nossa Era, de quando datam as mais recuadas informações credíveis, a cidade ainda não era a mais importante da região, estando nessa altura, no tempo de domínio dos Bohojas, que governaram entre os séculos III e VI como feudatários dos imperadores Mauryas de Ptaliputra, no Norte da Índia, a capital era a actual vila de Chandor. Foi então que o Budismo foi introduzido no futuro território português, conservando-se algumas grutas com testemunhos desses tempos, como em Aravalém e Rivona. O declínio desta corrente e a emergência do Hinduísmo, com o predomínio da seita Shivaita, fez desaparecer estes santuários, usados a partir de então pela nova crença, construindo outros rupestres, como em Khandepar, na província de Pondá, e os templos de Divar, Chandranath, Bandorá, etc…
Mas Goa e a região envolvente não conheceram a paz por muito tempo. No século VII estava nas mãos dos Chalukyas de Badami, e integrada na província de Revatidvipa. Depois sucederam-lhes os Rashtrakutas, cerca de 753, cujo domínio se estendeu até 973. Período mais estável foi o seguinte, quando ficou cerca de cinco séculos sob a suserania dos Kadambas. Inicialmente com Shastadeva I a capital estava em Chandrapur, mas o rei seguinte, Jayakeshi, que conquistou todo o Concão, estabeleceu-se perto da cidade, em Goa-Velha, hoje uma pequena aldeia da Ilha de Tiswadi, então designada Gopakapattana. Foi um período em que se iniciaram contactos comerciais com terras distantes, com Zanzibar, o Guzarate, o Ceilão e Bengala. A Corte era budista, e só no século XII, com a pressão dos Lingayatas, é que o budismo e o jainismo foram relegados para um segundo plano.
Em 1311 Goa-a-Velha foi atacada pelos senhores de Delhi, ocorrendo novo assédio em 1327, altura em que se deram as primeiras destruições de templos hindus, como o que era dedicado a Shiva, e que estava localizado onde hoje está a igreja de Nossa Senhora da Piedade de Divar. De 1336 até 1470, o território ficou sob dominação de Vijayanagar, e foi anexada à província de Junnar. Depois o sultanado de Bahamani desintegrou-se, e Bijapur tomou conta da região, estabelecendo o poder regional em Goa, a nossa Velha-Goa, então designada por Ela, e que não se pode confundir com Goa-a-Velha, que já referimos várias vezes. Foi ao sultão de Bijapur, Yusuf Adil Khan, o Idalcão das nossas crónicas, que Afonso de Albuquerque conquistou a cidade e a Ilha de Tiswadi, em 1510. Tomé Pires, na Suma Oriental, escrita por 1512 ou 1513, dá-nos uma imagem da cidade que é fundamentalmente a da Goa pré-portuguesa, relevando a sua importância política e económica, o seu papel como centro comercial e as relações que mantinha com o Golfo Pérsico e com outros reinos hindustânicos. Era aos seus olhos uma presa apetecível para a nascente talassocracia lusa. Manifestava já a ideia de que era um lugar estratégico, com dois braços de mar, na verdade dois rios, a transformá-la numa ilha defensável. Os seus produtos agrícolas, do arroz ao betel, eram da melhor qualidade.”
Cito, então, Pedro Dias:
“(…) a história de Goa não começou com a chegada dos Portugueses; a cidade tinha um passado rico e com algumas épocas de brilho, documentadas quer nas fontes orientais quer nas portuguesas, e também testemunháveis por vestígios arqueológicos. O mesmo se diga dos territórios de Salcete e Bardês, e também das chamas Novas Conquistas, incorporadas em pleno século XVIII. No século II da nossa Era, de quando datam as mais recuadas informações credíveis, a cidade ainda não era a mais importante da região, estando nessa altura, no tempo de domínio dos Bohojas, que governaram entre os séculos III e VI como feudatários dos imperadores Mauryas de Ptaliputra, no Norte da Índia, a capital era a actual vila de Chandor. Foi então que o Budismo foi introduzido no futuro território português, conservando-se algumas grutas com testemunhos desses tempos, como em Aravalém e Rivona. O declínio desta corrente e a emergência do Hinduísmo, com o predomínio da seita Shivaita, fez desaparecer estes santuários, usados a partir de então pela nova crença, construindo outros rupestres, como em Khandepar, na província de Pondá, e os templos de Divar, Chandranath, Bandorá, etc…
Mas Goa e a região envolvente não conheceram a paz por muito tempo. No século VII estava nas mãos dos Chalukyas de Badami, e integrada na província de Revatidvipa. Depois sucederam-lhes os Rashtrakutas, cerca de 753, cujo domínio se estendeu até 973. Período mais estável foi o seguinte, quando ficou cerca de cinco séculos sob a suserania dos Kadambas. Inicialmente com Shastadeva I a capital estava em Chandrapur, mas o rei seguinte, Jayakeshi, que conquistou todo o Concão, estabeleceu-se perto da cidade, em Goa-Velha, hoje uma pequena aldeia da Ilha de Tiswadi, então designada Gopakapattana. Foi um período em que se iniciaram contactos comerciais com terras distantes, com Zanzibar, o Guzarate, o Ceilão e Bengala. A Corte era budista, e só no século XII, com a pressão dos Lingayatas, é que o budismo e o jainismo foram relegados para um segundo plano.
Em 1311 Goa-a-Velha foi atacada pelos senhores de Delhi, ocorrendo novo assédio em 1327, altura em que se deram as primeiras destruições de templos hindus, como o que era dedicado a Shiva, e que estava localizado onde hoje está a igreja de Nossa Senhora da Piedade de Divar. De 1336 até 1470, o território ficou sob dominação de Vijayanagar, e foi anexada à província de Junnar. Depois o sultanado de Bahamani desintegrou-se, e Bijapur tomou conta da região, estabelecendo o poder regional em Goa, a nossa Velha-Goa, então designada por Ela, e que não se pode confundir com Goa-a-Velha, que já referimos várias vezes. Foi ao sultão de Bijapur, Yusuf Adil Khan, o Idalcão das nossas crónicas, que Afonso de Albuquerque conquistou a cidade e a Ilha de Tiswadi, em 1510. Tomé Pires, na Suma Oriental, escrita por 1512 ou 1513, dá-nos uma imagem da cidade que é fundamentalmente a da Goa pré-portuguesa, relevando a sua importância política e económica, o seu papel como centro comercial e as relações que mantinha com o Golfo Pérsico e com outros reinos hindustânicos. Era aos seus olhos uma presa apetecível para a nascente talassocracia lusa. Manifestava já a ideia de que era um lugar estratégico, com dois braços de mar, na verdade dois rios, a transformá-la numa ilha defensável. Os seus produtos agrícolas, do arroz ao betel, eram da melhor qualidade.”

Basílica do Bom Jesus - A Companhia de Jesus chegou
a Goa em 1542, sendo sua figura mais relevante nestes primeiros tempos a de S. Francisco Xavier, considerado o
Apóstolo do Oriente pelo seu trabalho na evangelização da Ásia. Algum tempo
após sua chegada, os jesuítas criaram um centro educativo religioso, o Colégio
de São Paulo ou de São Roque, que contava com uma enorme biblioteca e
tipografia, mas este complexo foi destruído em 1830.
O grande monumento jesuítico que sobreviveu é a Basílica do Bom Jesus, começada em 1594 e sagrada em 1605, na qual trabalharam o engenheiro goês Júlio Simão e o jesuíta português Domingos Fernandes. Seguindo o modelo de igrejas jesuítas portuguesas como a Igreja do Espírito Santo de Évora e a Igreja de São Roque de Lisboa, Bom Jesus é um templo de nave única; esta é coberta por um forro curvo de madeira e não possui capelas laterais excepto por duas capelas na área do transepto.
A fachada da igreja, obra de Domingos Fernandes, é de estilo maneirista e tem três portais e três andares compartimentalizados por cornijas; sobre a fachada há um grande corpo cenográfico com frontão decorado por uma cartela com as armas da Companhia de Jesus e ladeado por volutas. O maior tesouro do interior da igreja é a capela do transepto onde se encontram, desde 1655, os restos de Francisco Xavier, numa urna de prata finamente trabalhada por artistas locais. A urna está localizada num mausoléu executado pelo artista florentino Giovanni Battista Foggini em 1697. Este monumento, em mármore italiano, foi oferecido pelo Grão-Duque da Toscana, Cosimo III Médici, e armado no local por um artista especialmente enviado, Placido Francesco Ramponi, chegado a Goa em 1698 com esse objectivo. Já a capela-mor possui um retábulo dourado, datado de c. 1699, dedicado ao Menino Jesus, com uma imagem de Inácio de Loiola, o fundador da Ordem.
Em 1946, tornou-se a primeira basílica da Índia. Nos dias actuais, ainda há peregrinações ao local, para visitas ao túmulo d'O Apóstolo do Oriente.
O grande monumento jesuítico que sobreviveu é a Basílica do Bom Jesus, começada em 1594 e sagrada em 1605, na qual trabalharam o engenheiro goês Júlio Simão e o jesuíta português Domingos Fernandes. Seguindo o modelo de igrejas jesuítas portuguesas como a Igreja do Espírito Santo de Évora e a Igreja de São Roque de Lisboa, Bom Jesus é um templo de nave única; esta é coberta por um forro curvo de madeira e não possui capelas laterais excepto por duas capelas na área do transepto.
A fachada da igreja, obra de Domingos Fernandes, é de estilo maneirista e tem três portais e três andares compartimentalizados por cornijas; sobre a fachada há um grande corpo cenográfico com frontão decorado por uma cartela com as armas da Companhia de Jesus e ladeado por volutas. O maior tesouro do interior da igreja é a capela do transepto onde se encontram, desde 1655, os restos de Francisco Xavier, numa urna de prata finamente trabalhada por artistas locais. A urna está localizada num mausoléu executado pelo artista florentino Giovanni Battista Foggini em 1697. Este monumento, em mármore italiano, foi oferecido pelo Grão-Duque da Toscana, Cosimo III Médici, e armado no local por um artista especialmente enviado, Placido Francesco Ramponi, chegado a Goa em 1698 com esse objectivo. Já a capela-mor possui um retábulo dourado, datado de c. 1699, dedicado ao Menino Jesus, com uma imagem de Inácio de Loiola, o fundador da Ordem.
Em 1946, tornou-se a primeira basílica da Índia. Nos dias actuais, ainda há peregrinações ao local, para visitas ao túmulo d'O Apóstolo do Oriente.
2. Descrição de Goa por dois quinhentistas
Tomé Pires e Duarte Barbosa ajudam-nos a perceber como era Goa, à chegada dos portugueses:
"Os gentios do reino de Goa são mais válidos que os do reino de Cambaia. Têm formosos templos seus neste reino, têm sacerdotes ou brâmanes de muitas maneiras. Há entre estes brâmanes gerações muito honradas deles, não comem coisa que tivesse sangue nem coisa feita por mão de outrem (…). As gentes do reino de Goa por nenhum tormento não confessarão coisa que façam. Sofrem grandemente e soem ser atormentados de diversos tormentos. Antes morrem que confessar o que determinaram calar. E as mulheres de Goa são jeitosas no vestir, as que dançam e volteiam o fazem com melhor maneira que todas as destas partes. (…) E costuma-se grandemente neste reino de Goa, toda mulher de gentio queimar-se por morte de seu marido. Entre si têm todos isto em apreço e os parentes dela ficam desonrados quando se não querem queimar e eles com admoestações as fazem queimar. As que de má mente recebem o sacrifício e as que de todo ponto não se queimam ficam públicas fornicárias e ganham para as despesas e fábricas dos templos donde são freguesas. Estes gentios têm cada um uma mulher por ordenança, e muitos brâmanes prometem castidade e sustêm-na sempre. Nos outros portos de Goa se carrega muito arroz, sal, bétele, areca." (A 'Suma Oriental' de Tomé Pires. Ed. Armando Cortesão, 1978. p. 212-218.)
Uma outra descrição coeva fornece maiores detalhes:
"[Goa] é habitada de muitos mouros honrados, muitos deles estrangeiros de muitas partidas. Eram homens brancos, entre os quais, além de muito ricos mercadores que aí havia, eram outros lavradores. A terra por ser muito bom porto, era de grande trato, onde vinham muitas naus de Meca e da cidade de Adem, Ormuz, de Cambaia e do Malabar (…). É a cidade mui grande, de boas casas, bem cercada de fortes muros, torres e cubelos; ao redor dela muitas hortas e pomares, com muitas formosas árvores e tanques de boa água com mesquitas e casas de oração de gentios. A terra é toda arredor muito aproveitada (…). Neste porto de Goa há grande trato de muitas mercadorias de todo o Malabar, Chaul e Dabul, do grande reino de Cambaia, que se gastam para a terra firme. Do reino de Ormuz vem aqui cada ano muitas naus carregadas de cavalos, os quais vêm aqui comprar muitas mercadorias do grande reino de Narsinga e Daquem, e compram cada um a duzentos e trezentos cruzados e segundo é, e vão-nos a vender aos reis e senhores aqui das suas terras, e, todos, uns e outros, ganham nisso muito e assim el-rei nosso senhor, que de cada cavalo tem quarenta cruzados de direitos." (Livro que dá relação do que viu e ouviu no Oriente Duarte Barbosa. Lisboa: Ed. Augusto Reis Machado, 1946. p. 89-91.)
Tomé Pires e Duarte Barbosa ajudam-nos a perceber como era Goa, à chegada dos portugueses:
"Os gentios do reino de Goa são mais válidos que os do reino de Cambaia. Têm formosos templos seus neste reino, têm sacerdotes ou brâmanes de muitas maneiras. Há entre estes brâmanes gerações muito honradas deles, não comem coisa que tivesse sangue nem coisa feita por mão de outrem (…). As gentes do reino de Goa por nenhum tormento não confessarão coisa que façam. Sofrem grandemente e soem ser atormentados de diversos tormentos. Antes morrem que confessar o que determinaram calar. E as mulheres de Goa são jeitosas no vestir, as que dançam e volteiam o fazem com melhor maneira que todas as destas partes. (…) E costuma-se grandemente neste reino de Goa, toda mulher de gentio queimar-se por morte de seu marido. Entre si têm todos isto em apreço e os parentes dela ficam desonrados quando se não querem queimar e eles com admoestações as fazem queimar. As que de má mente recebem o sacrifício e as que de todo ponto não se queimam ficam públicas fornicárias e ganham para as despesas e fábricas dos templos donde são freguesas. Estes gentios têm cada um uma mulher por ordenança, e muitos brâmanes prometem castidade e sustêm-na sempre. Nos outros portos de Goa se carrega muito arroz, sal, bétele, areca." (A 'Suma Oriental' de Tomé Pires. Ed. Armando Cortesão, 1978. p. 212-218.)
Uma outra descrição coeva fornece maiores detalhes:
"[Goa] é habitada de muitos mouros honrados, muitos deles estrangeiros de muitas partidas. Eram homens brancos, entre os quais, além de muito ricos mercadores que aí havia, eram outros lavradores. A terra por ser muito bom porto, era de grande trato, onde vinham muitas naus de Meca e da cidade de Adem, Ormuz, de Cambaia e do Malabar (…). É a cidade mui grande, de boas casas, bem cercada de fortes muros, torres e cubelos; ao redor dela muitas hortas e pomares, com muitas formosas árvores e tanques de boa água com mesquitas e casas de oração de gentios. A terra é toda arredor muito aproveitada (…). Neste porto de Goa há grande trato de muitas mercadorias de todo o Malabar, Chaul e Dabul, do grande reino de Cambaia, que se gastam para a terra firme. Do reino de Ormuz vem aqui cada ano muitas naus carregadas de cavalos, os quais vêm aqui comprar muitas mercadorias do grande reino de Narsinga e Daquem, e compram cada um a duzentos e trezentos cruzados e segundo é, e vão-nos a vender aos reis e senhores aqui das suas terras, e, todos, uns e outros, ganham nisso muito e assim el-rei nosso senhor, que de cada cavalo tem quarenta cruzados de direitos." (Livro que dá relação do que viu e ouviu no Oriente Duarte Barbosa. Lisboa: Ed. Augusto Reis Machado, 1946. p. 89-91.)

Igreja de Nossa Senhora do Rosário
3. Descrição da relação dos goeses com os portugueses no tempo, com base no livro de Elaine Sanceau, “Recortes de pequena história”
Elaine Sanceau, autora já muitas vezes citada nesta página, publicou o livro “Recortes de pequena história” em 1964, editado pela Livraria Civilização, três anos depois da queda de Goa. A história desse livro que agora transcrevo foi escrita pela autora inglesa no início de 1962:
“Não é só Portugal que está de luto nestes trágicos começos de 1962, mas todo o mundo civilizado – o mundo que já procurou em vão pôr cobro às ambições desmedidas dos fortes. Com a violação e aniquilamento da Índia Portuguesa, é mais uma luz que se extingue, mais um atentado brutal contra os valores espirituais, hoje em dia tão desfalcados.
Então não fizeram os hindus senão reconquistar o que há séculos perderam? – perguntam alguns, esquecidos da História. Perfeitamente falso! Goa não foi em tempo algum arrebatada pelos Portugueses aos naturais da terra. Muito pelo contrário! Goram os próprios Goeses que se lhes entregaram de braços abertos, pedindo para serem libertados do tirano estrangeiro que os oprimia. Quando, em Março de 1510, Albuquerque desembarcou em Goa, os habitantes vieram ao seu encontro com festas e flores.
A ocasião era favorável. Nessa altura o senhor de Goa – o Idalcão, filho do aventureiro turco-persa Yusuf Adil Khan, que se tornara todo-poderoso no reino do Decão – achava-se ausente a guerrear os vizinhos. As poucas tropas turcas que deixara de guarnição fugiram vendo aparecer os portugueses, de maneira que a ocupação fez-se quase sem resistência.
Como era de esperar, o Idalcão reagiu, voltando com o seu exército heterogéneo de mercenário recrutados entre todas as raças guerreiras do Médio Oriente muçulmano, para rechaçar os portugueses. Foi àqueles, e não aos naturais hindus, que Albuquerque conquistou Goa, em 25 de Novembro de 1510, tendo apenas 1681 homens para opor a forças dez vezes mais numerosas. Combateu, venceu, e então, sim, entrou à mão armada, e os Goeses vieram jubilosos ajudar a expulsar as odiadas tropas do tirano que os subjugara.
Desta maneira nasceu a Goa portuguesa, do valor luso e da vontade dos naturais. E Albuquerque, com as suas vistas de água, convencido de que <<tão nobre cidade ao diante seria tão grande cousa, se Nosso Senhor fosse servido, assentou em seu coração de nisso trabalhar com todas suas forças, que ficasse fixa pera sempre no senhorio de el-rei de Portugal>>. Com este fim de facto trabalhou, de corpo e alma, enquanto viveu, para melhorar e enobrecer Goa, onde fazia, diz o seu secretário Gaspar Correia acima citado, <<muytas e boas cousas, com homem que as fazia em cousa sua própria>>.
Elaine Sanceau, autora já muitas vezes citada nesta página, publicou o livro “Recortes de pequena história” em 1964, editado pela Livraria Civilização, três anos depois da queda de Goa. A história desse livro que agora transcrevo foi escrita pela autora inglesa no início de 1962:
“Não é só Portugal que está de luto nestes trágicos começos de 1962, mas todo o mundo civilizado – o mundo que já procurou em vão pôr cobro às ambições desmedidas dos fortes. Com a violação e aniquilamento da Índia Portuguesa, é mais uma luz que se extingue, mais um atentado brutal contra os valores espirituais, hoje em dia tão desfalcados.
Então não fizeram os hindus senão reconquistar o que há séculos perderam? – perguntam alguns, esquecidos da História. Perfeitamente falso! Goa não foi em tempo algum arrebatada pelos Portugueses aos naturais da terra. Muito pelo contrário! Goram os próprios Goeses que se lhes entregaram de braços abertos, pedindo para serem libertados do tirano estrangeiro que os oprimia. Quando, em Março de 1510, Albuquerque desembarcou em Goa, os habitantes vieram ao seu encontro com festas e flores.
A ocasião era favorável. Nessa altura o senhor de Goa – o Idalcão, filho do aventureiro turco-persa Yusuf Adil Khan, que se tornara todo-poderoso no reino do Decão – achava-se ausente a guerrear os vizinhos. As poucas tropas turcas que deixara de guarnição fugiram vendo aparecer os portugueses, de maneira que a ocupação fez-se quase sem resistência.
Como era de esperar, o Idalcão reagiu, voltando com o seu exército heterogéneo de mercenário recrutados entre todas as raças guerreiras do Médio Oriente muçulmano, para rechaçar os portugueses. Foi àqueles, e não aos naturais hindus, que Albuquerque conquistou Goa, em 25 de Novembro de 1510, tendo apenas 1681 homens para opor a forças dez vezes mais numerosas. Combateu, venceu, e então, sim, entrou à mão armada, e os Goeses vieram jubilosos ajudar a expulsar as odiadas tropas do tirano que os subjugara.
Desta maneira nasceu a Goa portuguesa, do valor luso e da vontade dos naturais. E Albuquerque, com as suas vistas de água, convencido de que <<tão nobre cidade ao diante seria tão grande cousa, se Nosso Senhor fosse servido, assentou em seu coração de nisso trabalhar com todas suas forças, que ficasse fixa pera sempre no senhorio de el-rei de Portugal>>. Com este fim de facto trabalhou, de corpo e alma, enquanto viveu, para melhorar e enobrecer Goa, onde fazia, diz o seu secretário Gaspar Correia acima citado, <<muytas e boas cousas, com homem que as fazia em cousa sua própria>>.
Não cuido somente da defesa militar de Goa fortificando-a de muros, ameias e castelos, dotando-a de arsenais e armamentos e estaleiros para construção de naus, mas providenciou para o bem-estar da vida civil. Fundou um hospital, escolas e igrejas, criou uma bolsa para meninos órfãos, distribuía rações a viúvas e pobres. Sempre – é ainda Gaspar Correia quem nos informa - <<desejava elle de fazer nobreza ao povo>>. Quitou-os também dos pesados direitos que lhes foram impostos pelos oficias do Idalcão. Os indígenas, vendo-se governados com uma justiça nunca dantes conhecida, adoravam o grande capitão.
A aspiração de Albuquerque era que Portugal estivesse em Goa para sempre. Por isso tratou de casar os seus homens com as raparigas da terra. Assim se iam fundindo as raças e os filhos destas uniões mistas formando o núcleo da Goa portuguesa. Junto dos naturais ficavam os lusos vivendo, trabalhando cada qual na sua arte pela prosperidade comum, criando os filhos no amor a Portugal.
Tal foi o sonho de Albuquerque para a sua Goa querida – a Goa tão amada que o herói, mesmo nas garras da morte, se ergueu para contemplá-la mais uma vez. Albuquerque, quando morreu, foi chorado e lamentado como nunca se ouviu fazer pranto por algum capitão.
Nos anos a seguir, apesar das invejas que aparecem sempre derredor de uma grande figura, a obra de Albuquerque não se perdeu. Goa foi-se tornando cada vez mais portuguesa, quando ao lado da mulher e mãe indiana veio colaborar a portuguesa nascida no reino. Consta dos documentos que já na segunda década depois da conquista, vinham com os homens para a Índia muitas esposas e filhas portuguesas. Para lá embarcavam também as <<órfãs>>, donzelas pobres bem-nascidas, que D. João III mandava para a Índia para casar e constituir família.
Desta maneira cresceu e desenvolveu-se uma sociedade multirracial, de cultura predominantemente portuguesa e cristã. Na bela e rica capital do Estado Português da Índia, ao lado da arquitectura frondosa dos antigos palácios hindus, viam-se as linhas mais sóbrias da Sé Catedral, igrejas e conventos católicos e boas casas manuelinas, assim como um hospital, que fazia a admiração do mundo, pela grandeza das suas instalações, a higiene e a limpeza que lá reinavam e o carinho com que eram tratados os doentes. Em Goa, administrada à portuguesa, viviam católicos e brâmanes em boas relações, ao passo que nas aldeias da terra firme circundante, o povo, gentio na sua maioria, era governado por regedores indígenas conforme seus usos e costumes.
Tal foi a obra cultural, firmada sobre os alicerces lançados pela mão forte de Albuquerque, espiritualizada pela doutrina de S. Francisco Xavier, que floresceu e perdurou, criando na Índia um rincão que era um mundo à parte – um Portugal orientalizado, um canto oriental feito português.
Isto durou 450 anos. Saudades de seus antigos governadores – os de antes de 1510 – o povo goês nunca sentira, pois eram estrangeiros que os tiranizavam. Não havia nenhuma tradição sentimental, nem razão histórica que os empurrasse para uma Índia continental – mero bloco geográfico de raças divergentes. Data de hoje esta espécie de megalomania que não tolera que uma pequena entidade conserve a sua existência independente ao lado de uma grande potência territorial, sem ser absorvida por esta – mesmo que tenha personalidade própria bem definida, mesmo que não queira unir-se ao gigante.
Assim a iniquidade consumou-se. Perdeu-se um baluarte do Ocidente – baluarte pequeno na verdade, mas sempre firme e forte.
Uma luz que se extinguiu – disse eu? Menti! A presença de Portugal em Goa há-de sobreviver ainda pelos séculos vindouros, queiram ou não os seus inimigos. Estes podem destruir e arrasar a obra material, mas Portugal criou em Goa uma alma distinta e diferente, e a alma é imortal.”
A aspiração de Albuquerque era que Portugal estivesse em Goa para sempre. Por isso tratou de casar os seus homens com as raparigas da terra. Assim se iam fundindo as raças e os filhos destas uniões mistas formando o núcleo da Goa portuguesa. Junto dos naturais ficavam os lusos vivendo, trabalhando cada qual na sua arte pela prosperidade comum, criando os filhos no amor a Portugal.
Tal foi o sonho de Albuquerque para a sua Goa querida – a Goa tão amada que o herói, mesmo nas garras da morte, se ergueu para contemplá-la mais uma vez. Albuquerque, quando morreu, foi chorado e lamentado como nunca se ouviu fazer pranto por algum capitão.
Nos anos a seguir, apesar das invejas que aparecem sempre derredor de uma grande figura, a obra de Albuquerque não se perdeu. Goa foi-se tornando cada vez mais portuguesa, quando ao lado da mulher e mãe indiana veio colaborar a portuguesa nascida no reino. Consta dos documentos que já na segunda década depois da conquista, vinham com os homens para a Índia muitas esposas e filhas portuguesas. Para lá embarcavam também as <<órfãs>>, donzelas pobres bem-nascidas, que D. João III mandava para a Índia para casar e constituir família.
Desta maneira cresceu e desenvolveu-se uma sociedade multirracial, de cultura predominantemente portuguesa e cristã. Na bela e rica capital do Estado Português da Índia, ao lado da arquitectura frondosa dos antigos palácios hindus, viam-se as linhas mais sóbrias da Sé Catedral, igrejas e conventos católicos e boas casas manuelinas, assim como um hospital, que fazia a admiração do mundo, pela grandeza das suas instalações, a higiene e a limpeza que lá reinavam e o carinho com que eram tratados os doentes. Em Goa, administrada à portuguesa, viviam católicos e brâmanes em boas relações, ao passo que nas aldeias da terra firme circundante, o povo, gentio na sua maioria, era governado por regedores indígenas conforme seus usos e costumes.
Tal foi a obra cultural, firmada sobre os alicerces lançados pela mão forte de Albuquerque, espiritualizada pela doutrina de S. Francisco Xavier, que floresceu e perdurou, criando na Índia um rincão que era um mundo à parte – um Portugal orientalizado, um canto oriental feito português.
Isto durou 450 anos. Saudades de seus antigos governadores – os de antes de 1510 – o povo goês nunca sentira, pois eram estrangeiros que os tiranizavam. Não havia nenhuma tradição sentimental, nem razão histórica que os empurrasse para uma Índia continental – mero bloco geográfico de raças divergentes. Data de hoje esta espécie de megalomania que não tolera que uma pequena entidade conserve a sua existência independente ao lado de uma grande potência territorial, sem ser absorvida por esta – mesmo que tenha personalidade própria bem definida, mesmo que não queira unir-se ao gigante.
Assim a iniquidade consumou-se. Perdeu-se um baluarte do Ocidente – baluarte pequeno na verdade, mas sempre firme e forte.
Uma luz que se extinguiu – disse eu? Menti! A presença de Portugal em Goa há-de sobreviver ainda pelos séculos vindouros, queiram ou não os seus inimigos. Estes podem destruir e arrasar a obra material, mas Portugal criou em Goa uma alma distinta e diferente, e a alma é imortal.”

Igreja do Convento de São Francisco de Assis - cito a obra "De Goa a Pangim, Memórias tangíveis da Capital do estado Português da Índia":
“O Convento de São Francisco de Assis da cidade de Goa foi fundado em 1518 por Frei António Louro, que chegou com mais oito franciscanos, com ordens explícitas do rei, para o governador Lopo Soares de Albergaria lhes facilitasse a acção missionária e a instalação. Assim, tão bem recomendados que vinham, Albergaria logo lhes cedeu umas casas que haviam pertencido ao falecido João Machado, e que ficavam exactamente onde ainda hoje se encontra o grande cruzeiro. As primeiras acomodações eram modestas, constituídas apenas por uma capela com três altares, um coro onde havia um órgão, e uma pequena sineira. Havia ainda uma sacristia, as celas respectivas, e a indispensável horta. Frei António Louro queixou-se na carta que mandou ao rei em 4 de Novembro de 1518 que não havia feito grande coisa, nem em Cochim nem em Goa, por desentendimentos com o governador, e aproveitava para pedir autorização para usar na construção as pedras aparelhadas de muito boa qualidade que pertenciam a um tempo hindu da ilha de Divar, que tinha sido destruído. Uma carta de frei António para D. Manuel I dá-nos preciosas informações sobre o andamento dos trabalhos e sobre as suas características.
(…)
Em 1548, quando visitado por São Francisco Xavier, o convento de São Francisco já albergava 40 frades. Porém o retábulo do altar-mor estava podre e quase destruído, pelo que os frades pediram um novo ao rei, juntamente com mais dois para a capela do cruzeiro, e outro para a sala capitular. A construção manuelina não resistiu ao passar dos anos, acabando a comunidade por tomar a iniciativa de a reedificar, tendo sido lançada a nova pedra em 1661."
“O Convento de São Francisco de Assis da cidade de Goa foi fundado em 1518 por Frei António Louro, que chegou com mais oito franciscanos, com ordens explícitas do rei, para o governador Lopo Soares de Albergaria lhes facilitasse a acção missionária e a instalação. Assim, tão bem recomendados que vinham, Albergaria logo lhes cedeu umas casas que haviam pertencido ao falecido João Machado, e que ficavam exactamente onde ainda hoje se encontra o grande cruzeiro. As primeiras acomodações eram modestas, constituídas apenas por uma capela com três altares, um coro onde havia um órgão, e uma pequena sineira. Havia ainda uma sacristia, as celas respectivas, e a indispensável horta. Frei António Louro queixou-se na carta que mandou ao rei em 4 de Novembro de 1518 que não havia feito grande coisa, nem em Cochim nem em Goa, por desentendimentos com o governador, e aproveitava para pedir autorização para usar na construção as pedras aparelhadas de muito boa qualidade que pertenciam a um tempo hindu da ilha de Divar, que tinha sido destruído. Uma carta de frei António para D. Manuel I dá-nos preciosas informações sobre o andamento dos trabalhos e sobre as suas características.
(…)
Em 1548, quando visitado por São Francisco Xavier, o convento de São Francisco já albergava 40 frades. Porém o retábulo do altar-mor estava podre e quase destruído, pelo que os frades pediram um novo ao rei, juntamente com mais dois para a capela do cruzeiro, e outro para a sala capitular. A construção manuelina não resistiu ao passar dos anos, acabando a comunidade por tomar a iniciativa de a reedificar, tendo sido lançada a nova pedra em 1661."

Mapa de Goa que delimita os territórios das Velhas Conquistas e das Novas conquistas
4. Velhas Conquistas e Novas Conquistas, com base em excertos retirados excertos da obra “Património de origem portuguesa no mundo”, de José Mattoso
Procurando explicar diferentes períodos da nossa instalação em de Goa, reproduzo excertos do já citado “Património de origem portuguesa no mundo”, de José Mattoso:
“1510-1595
A conquista da cidade de Goa, iniciada pelas forças de Afonso de Albuquerque em Fevereiro de 1510, só viria a tornar-se efectiva para a totalidade da Ilha de Tiswadi dois anos mais tarde, quando, após uma sucessão de campanhas militares, os portugueses se apossaram da fortaleza de Benasterim, aí edificando uma fortaleza que integrou a estrutura defensiva muçulmana pré-existente.
Por essa altura o sistema defensivo do território sob o domínio português consistia basicamente em duas zonas fortificadas: por um lado, o perímetro amuralhado da cidade e a fortaleza local, que foram recponstruídos e posteriormente reforçados; por outro, as muralhas e baluartes da Ilha de Tiswadi, que procuram defender os passos das incursões das forças de Adil Khan, o sultão de Bijapur que os portugueses designavam por Hidalcão.
O complexo defensivo da Ilha de Tiswadi, que logo nos primeiros anos constava, no dizer de António Real, capitão de Cochim, de um total de cinco fortalezas, guarnecidas com um efectivo de cerca de seiscentos homens, apoiados por mil peões da terra e cem homens a cavalo, haveria ainda de crescer ao longo dos anos que se seguiram. Por outro lado, foram ainda construídas em Salcete e Bardez duas fortalezas com o intuito de formarem uma primeira linha defensiva contra os ataques da terra firme. Com efeito, por volta de 1535 foi edificada a fortaleza de São João de Rachol e, mais tarde, em 1551, iniciada a dos Reis Magos, o que permitiu aos portugueses consolidarem a sua presença tanto nas terras de Salcete como em Bardez.
(…)
Procurando explicar diferentes períodos da nossa instalação em de Goa, reproduzo excertos do já citado “Património de origem portuguesa no mundo”, de José Mattoso:
“1510-1595
A conquista da cidade de Goa, iniciada pelas forças de Afonso de Albuquerque em Fevereiro de 1510, só viria a tornar-se efectiva para a totalidade da Ilha de Tiswadi dois anos mais tarde, quando, após uma sucessão de campanhas militares, os portugueses se apossaram da fortaleza de Benasterim, aí edificando uma fortaleza que integrou a estrutura defensiva muçulmana pré-existente.
Por essa altura o sistema defensivo do território sob o domínio português consistia basicamente em duas zonas fortificadas: por um lado, o perímetro amuralhado da cidade e a fortaleza local, que foram recponstruídos e posteriormente reforçados; por outro, as muralhas e baluartes da Ilha de Tiswadi, que procuram defender os passos das incursões das forças de Adil Khan, o sultão de Bijapur que os portugueses designavam por Hidalcão.
O complexo defensivo da Ilha de Tiswadi, que logo nos primeiros anos constava, no dizer de António Real, capitão de Cochim, de um total de cinco fortalezas, guarnecidas com um efectivo de cerca de seiscentos homens, apoiados por mil peões da terra e cem homens a cavalo, haveria ainda de crescer ao longo dos anos que se seguiram. Por outro lado, foram ainda construídas em Salcete e Bardez duas fortalezas com o intuito de formarem uma primeira linha defensiva contra os ataques da terra firme. Com efeito, por volta de 1535 foi edificada a fortaleza de São João de Rachol e, mais tarde, em 1551, iniciada a dos Reis Magos, o que permitiu aos portugueses consolidarem a sua presença tanto nas terras de Salcete como em Bardez.
(…)
Igreja de Nossa Senhora da Divina Providência, também chamada de São Caetano
1596-1666
A entrada em cena dos holandeses no Índico obrigou as autoridades portuguesas a repensar a sua estratégia defensiva relativamente à cidade de Goa e à Ilha de Tiswadi. O principal perigo para os interesses da coroa portuguesa vinha agora do mar e não da terra firme, razão pela qual se afigurava prioritário assegurar a defesa das barras do Zuari e do Mandovi, bem como da Costa de Bardez que, pela sua configuração, se revelava mais atreita a ataques anfíbios. Por outro lado, as relações com o sultão de Bijapur, que até aí haviam sido marcadas por conflitos sucessivos, viriam durante o século XVII a pautar-se por um relacionamento mais pacífico. Na verdade, com excepção de dois momentos ocorridos em 1654 e 1659, em que as forças de Bijapur invadiram os territórios de Bardez e Salcete, a centúria ficou marcada por uma menor conflitualidade entre as duas potências. As suas preocupações estavam agora centradas numa nova e muito mais perigosa ameaça, dada a emergência dos novos potentados militares do Decão, a saber, os mongóis e, mais tarde, a partir da segunda metade do século XVII, os maratas.
Em resultado da mudança do quadro político-militar ocorrida em torno do território de Goa, as embocaduras do Mandovi e do Zuari foram amplamente fortificadas, assistindo-se à construção de novas estruturas e à reforma de outras já existentes. Assim, na costa de Bardez foi construído o Forte de Aguada e reforçou-se o dos Reis Magos, enquanto na margem fronteira se melhorou o Passo de Pangim e se iniciou a construção do Forte de Gaspar Dias, com o objectivo de cruzar fogos com a posição dos Reis Magos. De acordo com António Bocarro, existia ainda um baluarte para a defesa do Ribandar, no qual foram feitos significativos trabalhos de reparação durante o governo do Conde de Linhares. Na barra do Zuari, não só foi iniciada a construção do Forte de Mormugão, mas também foram construídos dois baluartes na base do morro, junto do Convento de Nossa Senhora do Cabo. Próximo destes baluartes, concluídos em 1626, foi depois construída uma plataforma junto à água, para aí ser colocada uma bateria de artilharia. Estas estruturas defensivas viriam a revelar-se decisivas para impedir a entrada das inúmeras esquadras holandesas que, sobretudo no primeiro terço de Seiscentos, procuraram, através do bloqueio das suas barras, conquistar a capital do Estado da Índia.
1667-1790
A ascensão do reino marata sob Shivaji Maharaj (1630-1680) causou grande impacto por todo o subcontinente indiano. Pela primeira vez após a destruição de Vijayanagar (1565), um soberano hindu impunha-se ao domínio islâmico, estabelecendo o seu poder sobre uma ampla base territorial. O epicentro do poder marata localizava-se perto da Província do Norte, mas bem cedo os seus exércitos alcançaram as fronteiras de Goa, seguindo-se um longo período de conflitos. Este teve dois momentos fulcrais: as invasões de Goa de 1682 e de 1739-1741. Durante estas duas campanhas, a presença portuguesa em Goa esteve muito perto de ser aniquilada. Contudo, as autoridades do Estado da Índia beneficiaram da guerra entre os maratas e o império mogol, conflito que sabiamente alimentaram e geriram. Os portugueses apoiaram ainda a sublevação dos clãs maratas dos bhonsles, na fronteira de Goa.
As primeiras incursões maratas na província de Bardez, ocorridas em 1667-1668, tiveram como consequência imediata a edificação do Forte de São Francisco Xavier na zona mais elevada da Ilha de Juá (Santo Estêvão). No contexto da campanha de Sambhaji, de 1683, o vice-rei Francisco de Távora ordenou o reforço das defesas de nordeste de Bardez, tendo sido edificado o Forte do Meio, entre as posições de Colvale e Tivim, e ainda a fortificação de Assunção, a sul de Tivim. Todas estas posições foram unidas por uma muralha com fosso, procurando assim completar artificialmente a insularidade da província de Bardez, projecto de datava de inícios do século XVII. Também se reformou a fortaleza de Rachol, em Salcete.
(…)
Em 1739-1741, ocorreu novo ataque dos maratas e dos bhonsles a Goa, colocando o território português – reduzido practicamente à Ilha de Tiswadi – numa situação muito precária. Contudo, a partir de 1741, os portugueses responderam com um movimento militar de consolidação e expansão territorial, começando pela reconquista das províncias de Bardez e Salcete. Lentamente, conseguiram expandir o território de Goa até ao Gates, numa série de campanhas e batalhas entre 1741 e 1790. A história dessas campanhas é longa e complexa, mas pode-se traçar os seus momentos cruciais: a batalha de Alorna, em 1746, consolidou a segurança das terras de Bardez e levou à rápida conquista de Bicholim e Tiracol, para além de outras posições, algumas das quais foram mais tarde perdidas; a batalha de Madranagor, em 1763, conduziu à incorporação definitiva da cidade e terras de Pindá; finalmente, o tratado de 1788 cedeu aos portugueses a província de Perném. Especialmente no último quartel do século XVIII, com o enfraquecimento dos maratas e dos clãs de bhonsles, as fronteiras de Goa estabilizaram ao longo da cordilheira do Gates e entre Tiracol e Canácona ao longo da costa – apesar de os portugueses terem ocupado locais estratégicos mais a norte e a sul dessas posições. Consequentemente, o território goês triplicou em extensão com a inclusão das denominadas Novas Conquistas.
Algumas das fortificações tomadas pelos portugueses durante este período – tanto aos maratas como aos bhonsles, como ainda ao rei de Sunda – foram reaproveitados com maiores ou menores alterações. Tanto em Alorna como em Tiracol e Cabo de Rama, permanecem importantes vestígios deste período. A maior parte das fortificações, no entanto, foi demolida ou desapareceu.
1971-1961
A consolidação do território goês após a campanha das Novas Conquistas conincidiu com o fim da ameaça marata e a imposição da Pax Britannica na Índia. Estes dois factos, e ainda a situação estagnada da economia de Goa, levaram a que a maior parte das posições defensivas do seu território fossem abandonadas ou descuradas. A presença de tropas inglesas no contexto das guerras napoleónicas veio reavivar os Fortes de Aguada, Mormugão e de Nossa Senhora do Cabo. Posteriormente, estas três posições fortificadas permaneceram praticamente como as únicas com guarnições e artilharia efectivas, sendo que a partir delas se efectuava sinalização luminosa para as embarcações e comunicações através do sistema de telégrafos de bandeiras. (…)
Durante a primeira metade do século XX, as únicas iniciativas com impacto na defesa do território relacionaram-se com infraestruturas viárias e comunicações. Com a independência da Índia em 1947, a defesa de Goa voltou a preocupar a administração portuguesa. Contudo, as medidas tomadas entre esta data e 1961 – entre as quais a construção de um aeroporto em 1955 – não tiveram nenhuma relevância aquando da anexação do território pela União Indiana.
A entrada em cena dos holandeses no Índico obrigou as autoridades portuguesas a repensar a sua estratégia defensiva relativamente à cidade de Goa e à Ilha de Tiswadi. O principal perigo para os interesses da coroa portuguesa vinha agora do mar e não da terra firme, razão pela qual se afigurava prioritário assegurar a defesa das barras do Zuari e do Mandovi, bem como da Costa de Bardez que, pela sua configuração, se revelava mais atreita a ataques anfíbios. Por outro lado, as relações com o sultão de Bijapur, que até aí haviam sido marcadas por conflitos sucessivos, viriam durante o século XVII a pautar-se por um relacionamento mais pacífico. Na verdade, com excepção de dois momentos ocorridos em 1654 e 1659, em que as forças de Bijapur invadiram os territórios de Bardez e Salcete, a centúria ficou marcada por uma menor conflitualidade entre as duas potências. As suas preocupações estavam agora centradas numa nova e muito mais perigosa ameaça, dada a emergência dos novos potentados militares do Decão, a saber, os mongóis e, mais tarde, a partir da segunda metade do século XVII, os maratas.
Em resultado da mudança do quadro político-militar ocorrida em torno do território de Goa, as embocaduras do Mandovi e do Zuari foram amplamente fortificadas, assistindo-se à construção de novas estruturas e à reforma de outras já existentes. Assim, na costa de Bardez foi construído o Forte de Aguada e reforçou-se o dos Reis Magos, enquanto na margem fronteira se melhorou o Passo de Pangim e se iniciou a construção do Forte de Gaspar Dias, com o objectivo de cruzar fogos com a posição dos Reis Magos. De acordo com António Bocarro, existia ainda um baluarte para a defesa do Ribandar, no qual foram feitos significativos trabalhos de reparação durante o governo do Conde de Linhares. Na barra do Zuari, não só foi iniciada a construção do Forte de Mormugão, mas também foram construídos dois baluartes na base do morro, junto do Convento de Nossa Senhora do Cabo. Próximo destes baluartes, concluídos em 1626, foi depois construída uma plataforma junto à água, para aí ser colocada uma bateria de artilharia. Estas estruturas defensivas viriam a revelar-se decisivas para impedir a entrada das inúmeras esquadras holandesas que, sobretudo no primeiro terço de Seiscentos, procuraram, através do bloqueio das suas barras, conquistar a capital do Estado da Índia.
1667-1790
A ascensão do reino marata sob Shivaji Maharaj (1630-1680) causou grande impacto por todo o subcontinente indiano. Pela primeira vez após a destruição de Vijayanagar (1565), um soberano hindu impunha-se ao domínio islâmico, estabelecendo o seu poder sobre uma ampla base territorial. O epicentro do poder marata localizava-se perto da Província do Norte, mas bem cedo os seus exércitos alcançaram as fronteiras de Goa, seguindo-se um longo período de conflitos. Este teve dois momentos fulcrais: as invasões de Goa de 1682 e de 1739-1741. Durante estas duas campanhas, a presença portuguesa em Goa esteve muito perto de ser aniquilada. Contudo, as autoridades do Estado da Índia beneficiaram da guerra entre os maratas e o império mogol, conflito que sabiamente alimentaram e geriram. Os portugueses apoiaram ainda a sublevação dos clãs maratas dos bhonsles, na fronteira de Goa.
As primeiras incursões maratas na província de Bardez, ocorridas em 1667-1668, tiveram como consequência imediata a edificação do Forte de São Francisco Xavier na zona mais elevada da Ilha de Juá (Santo Estêvão). No contexto da campanha de Sambhaji, de 1683, o vice-rei Francisco de Távora ordenou o reforço das defesas de nordeste de Bardez, tendo sido edificado o Forte do Meio, entre as posições de Colvale e Tivim, e ainda a fortificação de Assunção, a sul de Tivim. Todas estas posições foram unidas por uma muralha com fosso, procurando assim completar artificialmente a insularidade da província de Bardez, projecto de datava de inícios do século XVII. Também se reformou a fortaleza de Rachol, em Salcete.
(…)
Em 1739-1741, ocorreu novo ataque dos maratas e dos bhonsles a Goa, colocando o território português – reduzido practicamente à Ilha de Tiswadi – numa situação muito precária. Contudo, a partir de 1741, os portugueses responderam com um movimento militar de consolidação e expansão territorial, começando pela reconquista das províncias de Bardez e Salcete. Lentamente, conseguiram expandir o território de Goa até ao Gates, numa série de campanhas e batalhas entre 1741 e 1790. A história dessas campanhas é longa e complexa, mas pode-se traçar os seus momentos cruciais: a batalha de Alorna, em 1746, consolidou a segurança das terras de Bardez e levou à rápida conquista de Bicholim e Tiracol, para além de outras posições, algumas das quais foram mais tarde perdidas; a batalha de Madranagor, em 1763, conduziu à incorporação definitiva da cidade e terras de Pindá; finalmente, o tratado de 1788 cedeu aos portugueses a província de Perném. Especialmente no último quartel do século XVIII, com o enfraquecimento dos maratas e dos clãs de bhonsles, as fronteiras de Goa estabilizaram ao longo da cordilheira do Gates e entre Tiracol e Canácona ao longo da costa – apesar de os portugueses terem ocupado locais estratégicos mais a norte e a sul dessas posições. Consequentemente, o território goês triplicou em extensão com a inclusão das denominadas Novas Conquistas.
Algumas das fortificações tomadas pelos portugueses durante este período – tanto aos maratas como aos bhonsles, como ainda ao rei de Sunda – foram reaproveitados com maiores ou menores alterações. Tanto em Alorna como em Tiracol e Cabo de Rama, permanecem importantes vestígios deste período. A maior parte das fortificações, no entanto, foi demolida ou desapareceu.
1971-1961
A consolidação do território goês após a campanha das Novas Conquistas conincidiu com o fim da ameaça marata e a imposição da Pax Britannica na Índia. Estes dois factos, e ainda a situação estagnada da economia de Goa, levaram a que a maior parte das posições defensivas do seu território fossem abandonadas ou descuradas. A presença de tropas inglesas no contexto das guerras napoleónicas veio reavivar os Fortes de Aguada, Mormugão e de Nossa Senhora do Cabo. Posteriormente, estas três posições fortificadas permaneceram praticamente como as únicas com guarnições e artilharia efectivas, sendo que a partir delas se efectuava sinalização luminosa para as embarcações e comunicações através do sistema de telégrafos de bandeiras. (…)
Durante a primeira metade do século XX, as únicas iniciativas com impacto na defesa do território relacionaram-se com infraestruturas viárias e comunicações. Com a independência da Índia em 1947, a defesa de Goa voltou a preocupar a administração portuguesa. Contudo, as medidas tomadas entre esta data e 1961 – entre as quais a construção de um aeroporto em 1955 – não tiveram nenhuma relevância aquando da anexação do território pela União Indiana.

Igreja de Santa Catarina
5. Velha Goa
Goa Velha é uma cidade histórica no estado indiano de Goa, no distrito de Goa Norte. A cidade foi construída no Sultanato Bijapur no século XV, e serviu como capital da Índia Portuguesa a partir do século XVI até ao seu abandono no século XVIII. A parte habitada da cidade hoje possui uma população estimada em pouco mais de 5 mil habitantes.
História
A cidade de Velha Goa foi fundada no século XV pelos governantes muçulmanos do Sultanato de Bijapur como um porto às margens do rio Mandovi. A povoação foi tomada em 1510 por Afonso de Albuquerque, Governador da Índia, permanecendo quase continuamente sob domínio português até o século XX.
Missionários jesuítas, franciscanos e de outras ordens religiosas estabeleceram-se em Goa já no século XVI, utilizada como centro para a difusão do catolicismo na Índia. Os colonizadores foram inicialmente tolerantes ao hinduísmo e outras religiões, mas a partir de 1560 a difusão do catolicismo foi reforçada pela chegada da Inquisição a Goa, muito temida no seu tempo. Os séculos XVI e XVII foram a época áurea de Goa, que comandou um comércio florescente e chegou a ter privilégios administrativos semelhantes aos de Lisboa. Nos dois primeiros séculos de presença portuguesa foram erguidas a maioria das igrejas e conventos que ainda hoje povoam a cidade, motivo de admiração dos viajantes que passavam por Goa. Estes monumentos reflectem o intercâmbio cultural entre portugueses e indianos: enquanto as formas arquitectónicas seguem os cânones europeus, a decoração interna de altares, retábulos, pinturas e mobiliário reflectem a mão-de-obra dos artistas locais. Isso foi possível pela grande tradição escultória dos artistas indianos da região de Goa, que não fizeram com que fosse necessária a importação a grande escala de mão-de-obra artística, tal como ocorreu no Brasil.
A partir de finais do século XVII, a concorrência comercial com holandeses e britânicos levou à decadência económica de Goa Velha, ao mesmo tempo que o Brasil passou a ser a colónia mais importante para Portugal. Além disso, várias epidemias assolaram a cidade, e o porto do rio Mandovi passou a ser inadequado para os navios mais modernos. O vice-rei mudou-se para Pangim (Nova Goa) em 1759, e Velha Goa perdeu o status de capital oficialmente em 1843.
Já no século XX, após vários anos de hostilidades e relações diplomáticas, as tropas indianas invadiram e anexaram Goa e as regiões circundantes à Índia, terminando séculos de presença portuguesa no sub-continente. A influência cultural, porém, continua até os dias de hoje e é evidente nos monumentos religiosos de Goa, declarados Património da Humanidade pela UNESCO em 1986.
São de Velha Goa os seguintes monumentos, alguns já vistos em fotografias anteriores:
- Convento de Santo Agostinho;
- Igreja do Bom Jesus;
- Igreja de Nossa Senhora do Rosário;
- Igreja de São Francisco de Assis;
- Sé Catedral de Santa Catarina (diferente da Igreja de Santa Catarina, cuja fotografia vem adiante);
- Igreja da Divina Providência (São Caetano)
Goa Velha é uma cidade histórica no estado indiano de Goa, no distrito de Goa Norte. A cidade foi construída no Sultanato Bijapur no século XV, e serviu como capital da Índia Portuguesa a partir do século XVI até ao seu abandono no século XVIII. A parte habitada da cidade hoje possui uma população estimada em pouco mais de 5 mil habitantes.
História
A cidade de Velha Goa foi fundada no século XV pelos governantes muçulmanos do Sultanato de Bijapur como um porto às margens do rio Mandovi. A povoação foi tomada em 1510 por Afonso de Albuquerque, Governador da Índia, permanecendo quase continuamente sob domínio português até o século XX.
Missionários jesuítas, franciscanos e de outras ordens religiosas estabeleceram-se em Goa já no século XVI, utilizada como centro para a difusão do catolicismo na Índia. Os colonizadores foram inicialmente tolerantes ao hinduísmo e outras religiões, mas a partir de 1560 a difusão do catolicismo foi reforçada pela chegada da Inquisição a Goa, muito temida no seu tempo. Os séculos XVI e XVII foram a época áurea de Goa, que comandou um comércio florescente e chegou a ter privilégios administrativos semelhantes aos de Lisboa. Nos dois primeiros séculos de presença portuguesa foram erguidas a maioria das igrejas e conventos que ainda hoje povoam a cidade, motivo de admiração dos viajantes que passavam por Goa. Estes monumentos reflectem o intercâmbio cultural entre portugueses e indianos: enquanto as formas arquitectónicas seguem os cânones europeus, a decoração interna de altares, retábulos, pinturas e mobiliário reflectem a mão-de-obra dos artistas locais. Isso foi possível pela grande tradição escultória dos artistas indianos da região de Goa, que não fizeram com que fosse necessária a importação a grande escala de mão-de-obra artística, tal como ocorreu no Brasil.
A partir de finais do século XVII, a concorrência comercial com holandeses e britânicos levou à decadência económica de Goa Velha, ao mesmo tempo que o Brasil passou a ser a colónia mais importante para Portugal. Além disso, várias epidemias assolaram a cidade, e o porto do rio Mandovi passou a ser inadequado para os navios mais modernos. O vice-rei mudou-se para Pangim (Nova Goa) em 1759, e Velha Goa perdeu o status de capital oficialmente em 1843.
Já no século XX, após vários anos de hostilidades e relações diplomáticas, as tropas indianas invadiram e anexaram Goa e as regiões circundantes à Índia, terminando séculos de presença portuguesa no sub-continente. A influência cultural, porém, continua até os dias de hoje e é evidente nos monumentos religiosos de Goa, declarados Património da Humanidade pela UNESCO em 1986.
São de Velha Goa os seguintes monumentos, alguns já vistos em fotografias anteriores:
- Convento de Santo Agostinho;
- Igreja do Bom Jesus;
- Igreja de Nossa Senhora do Rosário;
- Igreja de São Francisco de Assis;
- Sé Catedral de Santa Catarina (diferente da Igreja de Santa Catarina, cuja fotografia vem adiante);
- Igreja da Divina Providência (São Caetano)
6. Nova Goa ou Pangim
Cidade, capital do Estado da Índia. Na ilha de Goa, do lado Norte à distância de 5 milhas da foz do rio Mandovi e na sua margem esquerda, estende-se ao longo dela sobre uma faixa de terra o bairro principal da capital da Índia portuguesa, que se denominava antigamente Pangim, e ainda hoje é conhecida por este nome. Do lado Este, correndo de Norte para Sul, fica o pitoresco bairro das Fontainhas. Pangim era um bairro da aldeia de Taleigão, primitivamente habitação das famílias dos pilotos da barra de Goa e de pescadores, tendo apenas de notável a fortaleza do Idalcão, que foi mandada transformar em palácio pelo Vice-Rei, Conde da Ega, que nela começou a residir em 1 de Dezembro de 1759, como recorda a seguinte inscrição que se lê sobre a porta do lado do Mandovi:
REGE FIDILISSIMO JOSEFO
PRIMO PRO REGE COMITE AB EGA
SENATUS EX INFORMI
FORMAVIT – 1760
Era na fortaleza do Idalcão que os vice-reis se alojavam na sua chegada à índia, desembarcando em Pangim, depois do que mandavam avisar o vice-rei que vinham substituir. A primitiva capital do Estado da Índia foi a velha cidade de Goa, na ilha de Tissuary, a que comummente chamam Goa, do nome da cidade, antiga capital da província. Em meados do século XVII viu-se a cidade de Goa a braços com uma terrível epidemia, e recrudescendo esta nos princípios do século XVIII o próprio vice-rei tentou transferir a capital para Mormugão, onde começaram os trabalhos de construção de nova cidade.
Os proprietários que tinham casas na capital mudaram as suas residências para as ilhas mais próximas, cuidando, todavia, dos seus prédios que tinham na capital, mas apenas se deu começo à edificação da nova cidade, abandonaram-nos completamente. Despenderam-se mais de 150 contos com as construções em Mormugão, onde, além do palácio do governo e do hospital, não se fizeram obras que habilitassem o governo a mudar para lá a capital.
Entretanto, as casas e os edifícios abandonados da velha cidade foram caindo sucessivamente, até o belo e rico hospital, o melhor do mundo, foi abandonado, sendo transferido para Panchim e em 1841 para Pangim. A despovoação da cidade principiou pela insalubridade do local, procedente de causas desconhecidas. Progrediu pela saída ou mudança de residência dos governadores. O Conde da Ega mudou-se para Panchim, e D. José Pedro da Câmara para o Passo e forte de Pangim. Antes da monção de 1774, o brigadeiro Henriques Carlos Henriques veio a Portugal, em consequência de ordens da corte, e queixou-se do governador D. João José de Melo, e parece que inculpou os governadores de terem saído da cidade e de concorrerem com o seu exemplo para a despovoação. E já a esse tempo as principais famílias tinham saído também, edificando em diferentes aldeias excelentes casas e abandonando as que tinham na cidade. Ordenou-se ao governador a residência na cidade; que curasse da sua reedificação e convidasse as famílias dispersas a que voltassem à cidade antes que as suas casas se arruinassem de todo; e o brigadeiro foi especialmente encarregado de inspeccionar a reedificação. O governador ficou em Pangim, e ordenou às câmaras agrárias que edificassem casas na cidade para as darem de arrendamento. Gastaram-se 800 mil pardáos.
Estes edifícios em 1798 já estavam em princípio de ruína, e em 1803 estavam completamente arruinados, e os interessados das províncias perderam os 800 mil pardáos.
Cidade, capital do Estado da Índia. Na ilha de Goa, do lado Norte à distância de 5 milhas da foz do rio Mandovi e na sua margem esquerda, estende-se ao longo dela sobre uma faixa de terra o bairro principal da capital da Índia portuguesa, que se denominava antigamente Pangim, e ainda hoje é conhecida por este nome. Do lado Este, correndo de Norte para Sul, fica o pitoresco bairro das Fontainhas. Pangim era um bairro da aldeia de Taleigão, primitivamente habitação das famílias dos pilotos da barra de Goa e de pescadores, tendo apenas de notável a fortaleza do Idalcão, que foi mandada transformar em palácio pelo Vice-Rei, Conde da Ega, que nela começou a residir em 1 de Dezembro de 1759, como recorda a seguinte inscrição que se lê sobre a porta do lado do Mandovi:
REGE FIDILISSIMO JOSEFO
PRIMO PRO REGE COMITE AB EGA
SENATUS EX INFORMI
FORMAVIT – 1760
Era na fortaleza do Idalcão que os vice-reis se alojavam na sua chegada à índia, desembarcando em Pangim, depois do que mandavam avisar o vice-rei que vinham substituir. A primitiva capital do Estado da Índia foi a velha cidade de Goa, na ilha de Tissuary, a que comummente chamam Goa, do nome da cidade, antiga capital da província. Em meados do século XVII viu-se a cidade de Goa a braços com uma terrível epidemia, e recrudescendo esta nos princípios do século XVIII o próprio vice-rei tentou transferir a capital para Mormugão, onde começaram os trabalhos de construção de nova cidade.
Os proprietários que tinham casas na capital mudaram as suas residências para as ilhas mais próximas, cuidando, todavia, dos seus prédios que tinham na capital, mas apenas se deu começo à edificação da nova cidade, abandonaram-nos completamente. Despenderam-se mais de 150 contos com as construções em Mormugão, onde, além do palácio do governo e do hospital, não se fizeram obras que habilitassem o governo a mudar para lá a capital.
Entretanto, as casas e os edifícios abandonados da velha cidade foram caindo sucessivamente, até o belo e rico hospital, o melhor do mundo, foi abandonado, sendo transferido para Panchim e em 1841 para Pangim. A despovoação da cidade principiou pela insalubridade do local, procedente de causas desconhecidas. Progrediu pela saída ou mudança de residência dos governadores. O Conde da Ega mudou-se para Panchim, e D. José Pedro da Câmara para o Passo e forte de Pangim. Antes da monção de 1774, o brigadeiro Henriques Carlos Henriques veio a Portugal, em consequência de ordens da corte, e queixou-se do governador D. João José de Melo, e parece que inculpou os governadores de terem saído da cidade e de concorrerem com o seu exemplo para a despovoação. E já a esse tempo as principais famílias tinham saído também, edificando em diferentes aldeias excelentes casas e abandonando as que tinham na cidade. Ordenou-se ao governador a residência na cidade; que curasse da sua reedificação e convidasse as famílias dispersas a que voltassem à cidade antes que as suas casas se arruinassem de todo; e o brigadeiro foi especialmente encarregado de inspeccionar a reedificação. O governador ficou em Pangim, e ordenou às câmaras agrárias que edificassem casas na cidade para as darem de arrendamento. Gastaram-se 800 mil pardáos.
Estes edifícios em 1798 já estavam em princípio de ruína, e em 1803 estavam completamente arruinados, e os interessados das províncias perderam os 800 mil pardáos.
Igreja de Nossa senhora do Rosário
Pangim tinha de notável apenas a fortaleza do Idalcão. Em 1591 tinha mais a igreja sob o título de ermida e invocação de N. Sr.ª da Conceição e o Colégio de S. Tomás, fundado em 1584.
Durante o governo do conde de Linhares (1629 a 1635) foi construída a grande ponte que liga Pangim a Ribandar. Esta ponte tem 44 arcos e mede aproximadamente três mil metros de comprimento. Pangim não passou de solitária habitação dos governadores, de alguns fidalgos e tropa, sendo o resto composto de pescadores e alfaiates.
Só em 1811 é que começou a mudar de face este lugarejo, cheio de palhotas e palmares, com a transferência para o seu seio da alfândega principal. Este facto chamou os habitantes estranhos, que então mudaram de hábitos e costumes. À alfândega seguiu-se a contadoria, comprando-se o edifício para esse fim por 19.400 xerafins. Foi o bastante para Pangim ser elevada à categoria de vila.
Os seus principais melhoramentos devem-se ao vice-rei D. Manuel de Portugal e Castro, que governou desde 1827 a 1835, o qual mandou alargar as ruas, aterrar os pântanos, construir o edifício da alfandega, o grande quartel militar e o campo para passeio público, denominado D. Manuel, por portaria de 4 de Abril de 1840, em honra daquele vice-rei. Os seus sucessores Ferreira Pestana, conde de Torres Novas, visconde de Ourém, conde de S. Januário e Caetano de Albuquerque, seguindo-lhe o exemplo, fizeram também grandes melhoramentos, tornando Pangim uma formosa cidade.
Pangim foi elevada a cidade e a capital da Índia portuguesa, com o nome de Nova Goa, pelo conde das Antas, por alvará de 22 de Março de 1843.
Conforme este alvará, a cidade de Nova Goa compreende nos seus limites todo o litoral da margem esquerda do rio Mandovi, desde a foz do mesmo rio até à ponte de Daugim, dividido em três bairros que são: 1.º bairro de Pangim, desde a ponte de Santa Inês até à cruz da ponte que vai de Pangim a Ribandar, tendo do lado da terra por limites os portais das Fontainhas; 2.º bairro de Ribandar, desde a cruz da mesma ponte até à Igreja de S. Pedro, limitado do lado da terra pelos portais de Chimbel; 3.º bairro de Goa, desde a referida Igreja de S. Pedro até à da Madre de Deus de Daugim, tendo por limites do lado da terra os muros e porta restante da antiga cidade.
Durante o governo do conde de Linhares (1629 a 1635) foi construída a grande ponte que liga Pangim a Ribandar. Esta ponte tem 44 arcos e mede aproximadamente três mil metros de comprimento. Pangim não passou de solitária habitação dos governadores, de alguns fidalgos e tropa, sendo o resto composto de pescadores e alfaiates.
Só em 1811 é que começou a mudar de face este lugarejo, cheio de palhotas e palmares, com a transferência para o seu seio da alfândega principal. Este facto chamou os habitantes estranhos, que então mudaram de hábitos e costumes. À alfândega seguiu-se a contadoria, comprando-se o edifício para esse fim por 19.400 xerafins. Foi o bastante para Pangim ser elevada à categoria de vila.
Os seus principais melhoramentos devem-se ao vice-rei D. Manuel de Portugal e Castro, que governou desde 1827 a 1835, o qual mandou alargar as ruas, aterrar os pântanos, construir o edifício da alfandega, o grande quartel militar e o campo para passeio público, denominado D. Manuel, por portaria de 4 de Abril de 1840, em honra daquele vice-rei. Os seus sucessores Ferreira Pestana, conde de Torres Novas, visconde de Ourém, conde de S. Januário e Caetano de Albuquerque, seguindo-lhe o exemplo, fizeram também grandes melhoramentos, tornando Pangim uma formosa cidade.
Pangim foi elevada a cidade e a capital da Índia portuguesa, com o nome de Nova Goa, pelo conde das Antas, por alvará de 22 de Março de 1843.
Conforme este alvará, a cidade de Nova Goa compreende nos seus limites todo o litoral da margem esquerda do rio Mandovi, desde a foz do mesmo rio até à ponte de Daugim, dividido em três bairros que são: 1.º bairro de Pangim, desde a ponte de Santa Inês até à cruz da ponte que vai de Pangim a Ribandar, tendo do lado da terra por limites os portais das Fontainhas; 2.º bairro de Ribandar, desde a cruz da mesma ponte até à Igreja de S. Pedro, limitado do lado da terra pelos portais de Chimbel; 3.º bairro de Goa, desde a referida Igreja de S. Pedro até à da Madre de Deus de Daugim, tendo por limites do lado da terra os muros e porta restante da antiga cidade.
Desta adoptou Nova Goa o brasão de armas, que é em escudo de sangue um castelo branco, sobre as ameias uma roda de navalhas e na parte superior de tudo uma mitra.
Os edifícios mais notáveis de Nova Goa são o palácio do governo, edifício do correio e obras públicas, repartição de fazenda e tesouraria geral, relação, alfandega, e o grande quartel militar, no qual se acha alojado o batalhão de infantaria. No mesmo edifício está instalado também o Liceu Nacional, a escola normal para ambos os sexos, a imprensa nacional, biblioteca pública e o depósito do material de guerra. Há ainda o hospital militar, a escola médica, os paços do concelho e o novo quartel da companhia de polícia. O quartel da bateria de artilhara é propriedade particular, tendo sido pouco a pouco adaptado ao fim a que é destinado. Sobre a porta principal do grande quartel militar, denominado “Quartel de Artilharia” por ter estado nele aquartelado o extinto batalhão de artilharia, acha-se a seguinte legenda:
NÃO VOS HÃO DE FALTAR GENTE FAMOSA
HONRA, VALOR E FAMA GLORIOSA
NO BOM E FELIZ GOVERNO DO ILL.mo E EX.mo SR.
D. MANUEL. DE PORTUGAL E CASTRO,
VICE-REI DA INDIA
ANNO DE 1832
ARTILHERIA DE GÔA
Defronte deste quartel, ao centro do largo Afonso de Albuquerque, está o monumento levantado ao conquistador da Índia. A estátua deste herói, que do Arco dos Vice Reis, tinha sido transferida para o frontispício do recolhimento da Serra com o abatimento deste edifício, foi recolhida e mandou-se construir o monumento para a colocar, por pedidos de Lagrange Monteiro de Barbuda, secretário-geral do governo. A solenidade e o acto da abertura do alicerce do monumento teve lugar em 17 de Fevereiro de 1843, a que assistiu o conde das Antas, então Governador-Geral, e a inauguração da estátua realizou-se a 29 de Outubro de 1847, estando presente o Governador-Geral Ferreira Pestana.
Além dos edifícios mencionados, existe à distância de 7 quilómetros da capital o pitoresco palácio do Cabo, destinado para fruição dos governadores-gerais, por decreto de 19 de Junho de 1866. Este palácio era o antigo convento dos Capuchos, conhecido pelo nome de Nossa Senhora do Cabo, onde os antigos vice-reis e arcebispos de Goa iam passar alguns dias nas estações calmosas. Foi neste convento que esteve preso o vice-rei Conde do Rio Pardo, deposto pela primeira junta provisional, por se negar a proclamar a constituição decretada por D. Pedro IV por não estar a isso autorizado pelo governo da metrópole e não ter conhecimento oficial da mesma proclamação.
Os edifícios mais notáveis de Nova Goa são o palácio do governo, edifício do correio e obras públicas, repartição de fazenda e tesouraria geral, relação, alfandega, e o grande quartel militar, no qual se acha alojado o batalhão de infantaria. No mesmo edifício está instalado também o Liceu Nacional, a escola normal para ambos os sexos, a imprensa nacional, biblioteca pública e o depósito do material de guerra. Há ainda o hospital militar, a escola médica, os paços do concelho e o novo quartel da companhia de polícia. O quartel da bateria de artilhara é propriedade particular, tendo sido pouco a pouco adaptado ao fim a que é destinado. Sobre a porta principal do grande quartel militar, denominado “Quartel de Artilharia” por ter estado nele aquartelado o extinto batalhão de artilharia, acha-se a seguinte legenda:
NÃO VOS HÃO DE FALTAR GENTE FAMOSA
HONRA, VALOR E FAMA GLORIOSA
NO BOM E FELIZ GOVERNO DO ILL.mo E EX.mo SR.
D. MANUEL. DE PORTUGAL E CASTRO,
VICE-REI DA INDIA
ANNO DE 1832
ARTILHERIA DE GÔA
Defronte deste quartel, ao centro do largo Afonso de Albuquerque, está o monumento levantado ao conquistador da Índia. A estátua deste herói, que do Arco dos Vice Reis, tinha sido transferida para o frontispício do recolhimento da Serra com o abatimento deste edifício, foi recolhida e mandou-se construir o monumento para a colocar, por pedidos de Lagrange Monteiro de Barbuda, secretário-geral do governo. A solenidade e o acto da abertura do alicerce do monumento teve lugar em 17 de Fevereiro de 1843, a que assistiu o conde das Antas, então Governador-Geral, e a inauguração da estátua realizou-se a 29 de Outubro de 1847, estando presente o Governador-Geral Ferreira Pestana.
Além dos edifícios mencionados, existe à distância de 7 quilómetros da capital o pitoresco palácio do Cabo, destinado para fruição dos governadores-gerais, por decreto de 19 de Junho de 1866. Este palácio era o antigo convento dos Capuchos, conhecido pelo nome de Nossa Senhora do Cabo, onde os antigos vice-reis e arcebispos de Goa iam passar alguns dias nas estações calmosas. Foi neste convento que esteve preso o vice-rei Conde do Rio Pardo, deposto pela primeira junta provisional, por se negar a proclamar a constituição decretada por D. Pedro IV por não estar a isso autorizado pelo governo da metrópole e não ter conhecimento oficial da mesma proclamação.
A 1 quilómetro da capital está situado, no planalto da Conceição, o excelente paço arquiepiscopal, sem dúvida o melhor edifício de Nova Goa, inaugurado em Dezembro de 1894. A sua construção foi autorizada por portaria de 17 de Janeiro de 1889, pela quantia de 90 mil rupias. Próximo deste edifício e à distância de cem passos está o observatório meteorológico de Nova Goa, estabelecido por portarias provinciais de 17 de Agosto de 1857 e 30 de Junho de 1859. Os paços do concelho foram mandados construir em 1858, pela quantia de 38.764 xerafins, 4 tangas e 43 réis. A sua construção foi iniciada em 1859 e concluída em 1859, data em que o respectivo edifício da velha cidade já estava em ruínas. A quinta parte do edifício pertence à câmara agrária das Ilhas, à qual a câmara municipal pediu o seu auxílio para os poder concluir, pois que não tinha capital para a sua conclusão.
Nova Goa é sede do arcebispado, cujo prelado tem o título de “Patriarca das Índias Orientais”; da relação, que abrange as comarcas do Estado da Índia e da província de Macau e Timor; da comarca das Ilhas e do concelho. É residência do governador-geral e do patriarca. Há em Nova Goa uma escola médico-cirúrgica, um hospital, vasto quartel, alfândega, liceu, paço arquiepiscopal, repartição de obras públicas, palácio do governo, escolas portuguesas, muçulmanas e hindus, biblioteca e imprensa do governo, observatório e farolim; e estação postal permutando vales do correio com a metrópole.

No contexto da descolonização, após os Ingleses terem deixado a Índia (1947) e os Franceses Pondicherry (1954), o governo português, liderado por António de Oliveira Salazar, recusou-se a negociar com a Índia. Por essa razão, de 18 para 19 de Dezembro de 1961 uma força indiana de 40.000 soldados conquistou Goa, encontrando pouca resistência. À época, o Conselho de Segurança da ONU considerou uma resolução que condenava a invasão, o que foi vetado pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. A maioria das nações reconheceram a acção da Índia, mas Portugal apenas a reconheceu após a revolução de Abril 1974.