HISTÓRIA GERAL DOS DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES
(por Francisco Xavier Valeriano de Sá)
a) Descobrimentos
O Homem, desde o princípio dos tempos, esteve sempre imbuído do espírito de aventura e partiu rumo ao desconhecido vencendo barreiras, rompendo horizontes, sulcando mares e desbravando terras.
Portugal, com as fronteiras norte e leste estabilizadas desde o Tratado de Alcanizes, em 1297, com uma longa tradição de transporte marítimo com o norte da Europa e também com o Mediterrâneo, e debruçado a ocidente sobre o Atlântico, qual varanda sobre o mar, sentiu naturalmente atracção pela aventura marítima em busca do desconhecido.
O intercâmbio com outras nações marítimas, nomeadamente genoveses, catalães e maiorquinos, levam os portugueses a aperfeiçoar-se nas ciências náuticas e adequar a construção dos seus barcos à navegação do Atlântico, com ventos, ondulações, tempestades e outras forças da natureza que se não faziam sentir no mar Mediterrâneo. As grandes florestas nacionais, algumas plantadas para defender a linha da costa, como foi o caso do pinhal de Leiria, forneciam a maior parte das madeiras próprias para a construção desses barcos.
Uma primeira tentativa surge em 1341, por iniciativa de D. Afonso IV, ao encarregar Nicolau de Recco de explorar as ilhas Canárias, o que iniciou um longo diferendo com Castela.
Portugal, com as fronteiras norte e leste estabilizadas desde o Tratado de Alcanizes, em 1297, com uma longa tradição de transporte marítimo com o norte da Europa e também com o Mediterrâneo, e debruçado a ocidente sobre o Atlântico, qual varanda sobre o mar, sentiu naturalmente atracção pela aventura marítima em busca do desconhecido.
O intercâmbio com outras nações marítimas, nomeadamente genoveses, catalães e maiorquinos, levam os portugueses a aperfeiçoar-se nas ciências náuticas e adequar a construção dos seus barcos à navegação do Atlântico, com ventos, ondulações, tempestades e outras forças da natureza que se não faziam sentir no mar Mediterrâneo. As grandes florestas nacionais, algumas plantadas para defender a linha da costa, como foi o caso do pinhal de Leiria, forneciam a maior parte das madeiras próprias para a construção desses barcos.
Uma primeira tentativa surge em 1341, por iniciativa de D. Afonso IV, ao encarregar Nicolau de Recco de explorar as ilhas Canárias, o que iniciou um longo diferendo com Castela.

A aventura começou sob a direcção do Infante D. Henrique, terceiro filho varão de D. João I, Rei de Portugal, que em 1515 tomou parte na expedição de Ceuta, e que teve informações que havia terra habitada para além do Cabo Bojador. Ainda com barcas e barinéis, depois com caravelas, foram iniciadas as viagens marítimas portuguesas, vindo assim a ser descobertas, em 1418-20, a ilha do Porto Santo, por João Gonçalves Zarco, fidalgo ao serviço do Infante, e Tristão Vaz Teixeira; em 1419 a ilha da Madeira, por João Gonçalves Zarco e Bartolomeu Perestrelo; e em 1432 as ilhas de Santa Maria e S. Miguel por Gonçalo Velho Cabral, também fidalgo ao serviço do Infante.

Nasce assim a chamada “Escola de Sagres”, sob a protecção e orientação do Infante D. Henrique, que era administrador da Ordem de Cristo, sucessora, desde D. Dinis, da Ordem dos Templários, cujos haveres e disciplina foram essenciais na realização dos Descobrimentos. A acção do Infante D. Pedro, irmão de D. Henrique, e de outras personalidades da casa real e da elite portuguesa foram também muito importantes, o que por vezes é esquecido.
Da escola saíram navegadores, cosmógrafos e gente especializada em diversas ciências náuticas que começaram a avançar pelo mar dentro e assim, em 1434, Gil Eanes, escudeiro do Infante, dobrou o Cabo Bojador, e em 1440 Diniz Fernandes descobriu o Senegal. Nessa altura já era muito conhecida em Portugal a figura do Preste João.
Iniciava-se a era dos Descobrimentos em que os portugueses, sulcando mares, desafiando oceanos e alcançando terras longínquas, iam dar a conhecer à Europa Ocidental novas terras, rios desconhecidos, civilizações antigas, povos com línguas e cores diferentes, religiões diversas, contornos geográficos impensáveis, flora e fauna estranhas e, ainda no campo náutico, o aperfeiçoamento da navegação, as rotas, as correntes marítimas, os ventos, os climas e tipos de barcos para fins específicos.
Continuando a aventura marítima, Dinis Dias contorna em 1445 Cabo Verde, em 1446 Nuno Tristão chega à foz do Gâmbia, Estêvão Afonso penetra o Rio Gâmbia e Álvaro Fernandes chega ao Cabo Roxo, em 1456-7 Diogo Gomes e Cadamosto percorrem a costa do Senegal e Gâmbia descobrindo o último algumas ilhas de Cabo Verde e em 1460 Pedro Sintra chega à Serra Leoa.
Em 1454, uma bula do Papa Nicolau V concede a D. Henrique o direito sobre as descobertas na costa africana.
Quando o Infante morre, em 1460, a sua obra estava bem consolidada e os navegadores portugueses tinham já explorado a costa africana até à Serra Leoa. As explorações sofreram uma paralisação após a sua morte, porque o Rei D. Afonso V empenhado nas lutas com Castela, não lhes deu seguimento. Apenas mandou arrendar a exploração comercial da rota da Guiné a Fernão Gomes.
D. João II, quando subiu ao trono em 1481, tentou localizar o Preste João e retomou o plano dos Descobrimentos. Encarregou Diogo de Azambuja de construir a fortaleza da Guiné, Diogo Cão de explorar a costa africana ao sul do Cabo de S. Catarina, Frei António de Lisboa e Pedro Monterroio de localizarem o Preste João e em 1487 Pêro da Covilhã de descobrir por terra a rota das especiarias da Índia. Este, cumprida a sua missão e chegado à Abissínia, não foi autorizado por Preste João a regressar a Portugal. Antes mandara do Cairo, em 1491, um relatório completo a El-Rei.
Da escola saíram navegadores, cosmógrafos e gente especializada em diversas ciências náuticas que começaram a avançar pelo mar dentro e assim, em 1434, Gil Eanes, escudeiro do Infante, dobrou o Cabo Bojador, e em 1440 Diniz Fernandes descobriu o Senegal. Nessa altura já era muito conhecida em Portugal a figura do Preste João.
Iniciava-se a era dos Descobrimentos em que os portugueses, sulcando mares, desafiando oceanos e alcançando terras longínquas, iam dar a conhecer à Europa Ocidental novas terras, rios desconhecidos, civilizações antigas, povos com línguas e cores diferentes, religiões diversas, contornos geográficos impensáveis, flora e fauna estranhas e, ainda no campo náutico, o aperfeiçoamento da navegação, as rotas, as correntes marítimas, os ventos, os climas e tipos de barcos para fins específicos.
Continuando a aventura marítima, Dinis Dias contorna em 1445 Cabo Verde, em 1446 Nuno Tristão chega à foz do Gâmbia, Estêvão Afonso penetra o Rio Gâmbia e Álvaro Fernandes chega ao Cabo Roxo, em 1456-7 Diogo Gomes e Cadamosto percorrem a costa do Senegal e Gâmbia descobrindo o último algumas ilhas de Cabo Verde e em 1460 Pedro Sintra chega à Serra Leoa.
Em 1454, uma bula do Papa Nicolau V concede a D. Henrique o direito sobre as descobertas na costa africana.
Quando o Infante morre, em 1460, a sua obra estava bem consolidada e os navegadores portugueses tinham já explorado a costa africana até à Serra Leoa. As explorações sofreram uma paralisação após a sua morte, porque o Rei D. Afonso V empenhado nas lutas com Castela, não lhes deu seguimento. Apenas mandou arrendar a exploração comercial da rota da Guiné a Fernão Gomes.
D. João II, quando subiu ao trono em 1481, tentou localizar o Preste João e retomou o plano dos Descobrimentos. Encarregou Diogo de Azambuja de construir a fortaleza da Guiné, Diogo Cão de explorar a costa africana ao sul do Cabo de S. Catarina, Frei António de Lisboa e Pedro Monterroio de localizarem o Preste João e em 1487 Pêro da Covilhã de descobrir por terra a rota das especiarias da Índia. Este, cumprida a sua missão e chegado à Abissínia, não foi autorizado por Preste João a regressar a Portugal. Antes mandara do Cairo, em 1491, um relatório completo a El-Rei.

Em 1486 partiu de Lisboa Bartolomeu Dias. No sul do continente africano sofreu um violento temporal e andou à deriva com o mar encapelado e ondas alterosas. Quando o tempo amainou e procurou costa para leste, só encontrou mar. Rumou ao norte, descobriu terra e navegou para leste até ao chamado Rio do Infante. Não conseguiu continuar por falta de meios e desânimos dos tripulantes.
No regresso, navegou ao longo da costa e quando verificou o seu contorno concluiu que sofrera a tempestade no extremo sul do continente africano, o que o impediu de verificar que a terra terminava aí. Devido ao temporal sofrido, apelidou aquele promontório de Cabo das Tormentas, face à descoberta da ligação dos Oceanos Atlântico e Índico.
Bartolomeu Dias só chegou a Lisboa em Dezembro de 1488.
Para chegar à Índia, faltava a navegação entre o Rio do Infante e Sofala, uma vez que D. João II tinha já informações sobre o comércio entre aquele porto e a Índia. Entretanto, Cristóvão Colombo expõe o seu projecto a El-Rei e, face à recusa deste, dirige-se ao Rei da Espanha, o qual aceita. Chega à América Central em 1492 e anuncia ter chegado às Índias.
No regresso, navegou ao longo da costa e quando verificou o seu contorno concluiu que sofrera a tempestade no extremo sul do continente africano, o que o impediu de verificar que a terra terminava aí. Devido ao temporal sofrido, apelidou aquele promontório de Cabo das Tormentas, face à descoberta da ligação dos Oceanos Atlântico e Índico.
Bartolomeu Dias só chegou a Lisboa em Dezembro de 1488.
Para chegar à Índia, faltava a navegação entre o Rio do Infante e Sofala, uma vez que D. João II tinha já informações sobre o comércio entre aquele porto e a Índia. Entretanto, Cristóvão Colombo expõe o seu projecto a El-Rei e, face à recusa deste, dirige-se ao Rei da Espanha, o qual aceita. Chega à América Central em 1492 e anuncia ter chegado às Índias.

No início, os navegadores assinalavam a sua passagem gravando nas árvores ou nas rochas os seus nomes e datas como, por exemplo, Ielala no Rio Zaire, cinto e cinquenta quilómetros a montante da foz, onde se encontram gravadas as seguintes inscrições nas rochas:
“Aqui chegaram os navios do esclarecido rei de Portugal, D. João, o segundo de Portugal. Diogo Cão, Pêro Anes, Pero da Costa, Álvaro Pires, Pêro Escobar, João santiago, Diogo Pinheiro; Gonçalo Álvares Antão”.

Entretanto, D. João II havia ordenado que assinalassem com padrões (colunas de pedra com inscrições encimadas por uma cruz), os locais notáveis que marcavam o avanço dos Descobrimentos.
Em 1493, o Papa Alexandre VI estabeleceu um meridiano a Ocidente de Cabo Verde, cabendo a Portugal as descobertas a Este do mesmo e a Castela as de Oeste. No entanto, D. João II assentou directamente com os Reis Católicos o meridiano a dividir as zonas de influência dos dois povos peninsulares, desviando-o mais para Oeste do Cabo Verde, o suficiente para abranger no espaço português o nordeste do Brasil.
Em 1494, com esta linha divisória, foi assinado o Tratado de Tordesilhas, entre Portugal e Espanha, que limitou os espaços de descobertas dos dois países.
No prosseguimento das viagens encetadas, D. João II escolhe para chefe da expedição por via marítima para a Índia, Estêvão da Gama. A 25 de Outubro de 1495 morre o Rei e a 27 do mesmo mês sobe ao trono D. Manuel I, que decide continuar com o plano dos Descobrimentos. Tendo entretanto falecido Estêvão da Gama, o Rei encarregou Vasco da Gama, filho de Estêvão, da audaciosa missão de chegar à Índia por via marítima.
Em 1493, o Papa Alexandre VI estabeleceu um meridiano a Ocidente de Cabo Verde, cabendo a Portugal as descobertas a Este do mesmo e a Castela as de Oeste. No entanto, D. João II assentou directamente com os Reis Católicos o meridiano a dividir as zonas de influência dos dois povos peninsulares, desviando-o mais para Oeste do Cabo Verde, o suficiente para abranger no espaço português o nordeste do Brasil.
Em 1494, com esta linha divisória, foi assinado o Tratado de Tordesilhas, entre Portugal e Espanha, que limitou os espaços de descobertas dos dois países.
No prosseguimento das viagens encetadas, D. João II escolhe para chefe da expedição por via marítima para a Índia, Estêvão da Gama. A 25 de Outubro de 1495 morre o Rei e a 27 do mesmo mês sobe ao trono D. Manuel I, que decide continuar com o plano dos Descobrimentos. Tendo entretanto falecido Estêvão da Gama, o Rei encarregou Vasco da Gama, filho de Estêvão, da audaciosa missão de chegar à Índia por via marítima.

Vasco da Gama parte a 8 de Julho de 1497 da praia do Restelo (Lisboa) com uma armada de quatro naus, depois de ter assistido junto com outros comandantes, tripulação, Rei, fidalgos e povo a actos religiosos na ermida de Santa Maria de Belém. Passou pelas Canárias e Cabo Verde, tendo-se depois aproximado da Serra Leoa, para apanhar os ventos alísios adequados à navegação com naus. Dele se separou, e da armada, a caravela comandada por Bartolomeu Dias que se dirigia à Mina, onde existia uma fortaleza e feitoria para comércio com as gentes da região.
Navegando pela volta do mar, durante perto de três meses, só em 22 de Novembro dobrou o Cabo da Boa Esperança. A 11 de Janeiro de 1498 a armada passou junto à foz do Rio do Cobre, só chegando à ilha de Moçambique em 2 de Março. Atinge Mombaça a 7 de Abril e Melinde a 13. Nas primeiras duas cidades sofreu ciladas, enquanto em Melinde foi bem recebido. Partiu com um piloto árabe que o levou a Calecute, onde chegou a 20 de Maio de 1498, estabelecendo a ligação entre a Europa Ocidental e a Ásia, por via marítima.
Estava descoberto do caminho marítimo para a Índia, tão desejado.
Vasco da Gama foi inicialmente bem recebido pelo Samorim de Calecute, a quem entregou as cartas do Rei de Portugal (D. Manuel I). Porém, o Samorim influenciado pelos rumes (mouros turcos) mudou de comportamento e começou a hostilizar os portugueses. Gama, não tendo meios militares para ripostar, levantou ferro a 9 de Agosto, ergueu um padrão em Bananor e Baticala, fundeou em Angediva e a 15 de Outubro levantou novamente ferro rumo a Lisboa.
Navegando pela volta do mar, durante perto de três meses, só em 22 de Novembro dobrou o Cabo da Boa Esperança. A 11 de Janeiro de 1498 a armada passou junto à foz do Rio do Cobre, só chegando à ilha de Moçambique em 2 de Março. Atinge Mombaça a 7 de Abril e Melinde a 13. Nas primeiras duas cidades sofreu ciladas, enquanto em Melinde foi bem recebido. Partiu com um piloto árabe que o levou a Calecute, onde chegou a 20 de Maio de 1498, estabelecendo a ligação entre a Europa Ocidental e a Ásia, por via marítima.
Estava descoberto do caminho marítimo para a Índia, tão desejado.
Vasco da Gama foi inicialmente bem recebido pelo Samorim de Calecute, a quem entregou as cartas do Rei de Portugal (D. Manuel I). Porém, o Samorim influenciado pelos rumes (mouros turcos) mudou de comportamento e começou a hostilizar os portugueses. Gama, não tendo meios militares para ripostar, levantou ferro a 9 de Agosto, ergueu um padrão em Bananor e Baticala, fundeou em Angediva e a 15 de Outubro levantou novamente ferro rumo a Lisboa.
Teve de aportar à Ilha Terceira, em Agosto do ano seguinte, devido à súbita doença de seu irmão, Paulo da Gama, mas, para transmitir a boa nova do caminho marítimo, enviou à frente outro navio sob o comando de Nicolau Coelho, que chegou a 9 de Julho. Vasco da Gama, amargurado com a morte do irmão e depois de o ter sepultado naquela ilha, partiu a 29 daquele mês, e chegou a Lisboa em Setembro de 1499.
Deve ter sido grande o efeito desta viagem no espírito de El-Rei D. Manuel I, para este, rodeado da sua corte, o receber solenemente com as maiores honras e benefícios.
No Restelo, de onde Vasco da Gama partiu, ficou a assinalar o evento o Mosteiro dos Jerónimos, mandado construir pelo Rei em honra de Nossa Senhora de Belém.
Deve ter sido grande o efeito desta viagem no espírito de El-Rei D. Manuel I, para este, rodeado da sua corte, o receber solenemente com as maiores honras e benefícios.
No Restelo, de onde Vasco da Gama partiu, ficou a assinalar o evento o Mosteiro dos Jerónimos, mandado construir pelo Rei em honra de Nossa Senhora de Belém.
b) Expansão
Em 1500, D. Manuel I mandou à Índia uma armada capitaneada por Pedro Álvares Cabral, a qual “sofreu um desvio” na rota que devia seguir, e descobriu o Brasil. Dessa armada, apenas seis navios chegaram a Calecute, onde foram mal recebidos. Partiram para Cochim, aí sendo estabelecida uma feitoria; seguidamente, passaram por Cananor, onde foram bem recebidos; e depois, com os navios cheios de especiarias, regressaram a Lisboa. Entretanto, partiu para a Índia uma armada sob o comando de João da Nova, que findou uma feitoria em Cananor e regressou.
Verificando-se que, após o regresso das armadas, as feitorias e os portugueses que ficavam eram atacados pelos potentados locais, em 1502 Vasco da Gama partiu com uma esquadra poderosa, destinada a punir as traições havidas, atacou Calecute, criando a psicose do medo, e regressou. Em 1503 seguiram três armadas, sendo capitão-mor de três naus de uma armada Afonso de Albuquerque, que estabeleceu uma feitoria em Coulão, construiu uma fortaleza em Cochim e lançou uma ofensiva contra as hostes do Samorim, que, após o regresso de Vasco da Gama, atacara as forças portuguesas. Quando regressou, comunicou ao Rei o que se passava na Índia.
Todas as primaveras largavam de Lisboa naus que deixavam na Índia guarnições em terra e regressavam no ano seguinte com especiarias e outras riquezas do Oriente. Porém, essas guarnições e feitorias portuguesas eram atacadas em terra por soberanos das regiões, após a saída das naus, instigados pelos mouros e turcos. Era necessário um poderio militar permanente sob as ordens da pessoa em quem o Rei outorgasse os poderes necessários para defesa dos interesses, para declarar guerra, promover a paz, administrar a Justiça e a Fazenda e comandar as forças terrestres e navais.
A escolha recaiu em Tristão da Cunha que cegou quando os preparativos estavam a meio. Em sua substituição foi escolhido D. Francisco de Almeida, com o título de Vice-Rei, que saiu em 24 de Março de 1505 com uma esquadra de 22 navios, sendo 12 para regressar e 10 para ficar. Porém, dado que D. Manuel I queria que fossem fortificadas as posições portuguesas com urgência, condicionou a utilização do título de Vice-Rei à edificação prévia de três fortalezas, motivo por que D. Francisco de Almeida se investiu dos poderes só após a construção das fortalezas de Quíloa, Angediva e Cananor e firmou uma aliança com o Rei de Cochim, onde estabeleceu a sede. Seguidamente atacou os navios mouros que se dirigiam ao Mar vermelho e tomou Panane. No seu governo chegara Fernão soares à Ilha de Madagáscar, D. Lourenço de Almeida às Maldivas e Ceilão e Diogo Lopes Sequeira a Samatra e Malaca.
Em Janeiro de 1508 seu filho, D. Lourenço de Almeida, quando estava a proteger os navios de carga de Cochim travou uma batalha violenta junto a Chaul com Mir Houssein, Capitão-Mor do Sultão de Bijapur, e Melinde Iaz, Senhor de Diu, que haviam jurado expulsar da Índia os portugueses, e, depois de gravemente ferido, veio a falecer. O pai dirigiu-se ao mar de Diu e, a 3 de Fevereiro 1509, destruiu as armadas daqueles, juntamente com a do Samorim de Calecute.
A sua política era a do domínio dos mares e nesse sentido escreveu ao rei: ”Saiba certo que, enquanto no mar fordes poderoso, tereis a Índia por vossa, e, se isto não tiveres no mar, pouco vos prestará fortaleza em terra”.
Em 1506, partiu outra armada sob o comando de Tristão da Cunha, já refeito da cegueira, sendo um dos navios capitaneado por Afonso de Albuquerque, que tinha por missão a vigilância do Mar Vermelho, com apoio na ilha de Socotorá, a qual tomou de passagem. Albuquerque levava um documento secreto do Rei nomeando-o Governador da Índia ao fim de três anos do governo de D. Francisco de Almeida e, como tal, andou durante esse tempo no mar da Índia em guerra com os mouros, tomou curiate e Orfação e conquistou Ormuz.
Verificando-se que, após o regresso das armadas, as feitorias e os portugueses que ficavam eram atacados pelos potentados locais, em 1502 Vasco da Gama partiu com uma esquadra poderosa, destinada a punir as traições havidas, atacou Calecute, criando a psicose do medo, e regressou. Em 1503 seguiram três armadas, sendo capitão-mor de três naus de uma armada Afonso de Albuquerque, que estabeleceu uma feitoria em Coulão, construiu uma fortaleza em Cochim e lançou uma ofensiva contra as hostes do Samorim, que, após o regresso de Vasco da Gama, atacara as forças portuguesas. Quando regressou, comunicou ao Rei o que se passava na Índia.
Todas as primaveras largavam de Lisboa naus que deixavam na Índia guarnições em terra e regressavam no ano seguinte com especiarias e outras riquezas do Oriente. Porém, essas guarnições e feitorias portuguesas eram atacadas em terra por soberanos das regiões, após a saída das naus, instigados pelos mouros e turcos. Era necessário um poderio militar permanente sob as ordens da pessoa em quem o Rei outorgasse os poderes necessários para defesa dos interesses, para declarar guerra, promover a paz, administrar a Justiça e a Fazenda e comandar as forças terrestres e navais.
A escolha recaiu em Tristão da Cunha que cegou quando os preparativos estavam a meio. Em sua substituição foi escolhido D. Francisco de Almeida, com o título de Vice-Rei, que saiu em 24 de Março de 1505 com uma esquadra de 22 navios, sendo 12 para regressar e 10 para ficar. Porém, dado que D. Manuel I queria que fossem fortificadas as posições portuguesas com urgência, condicionou a utilização do título de Vice-Rei à edificação prévia de três fortalezas, motivo por que D. Francisco de Almeida se investiu dos poderes só após a construção das fortalezas de Quíloa, Angediva e Cananor e firmou uma aliança com o Rei de Cochim, onde estabeleceu a sede. Seguidamente atacou os navios mouros que se dirigiam ao Mar vermelho e tomou Panane. No seu governo chegara Fernão soares à Ilha de Madagáscar, D. Lourenço de Almeida às Maldivas e Ceilão e Diogo Lopes Sequeira a Samatra e Malaca.
Em Janeiro de 1508 seu filho, D. Lourenço de Almeida, quando estava a proteger os navios de carga de Cochim travou uma batalha violenta junto a Chaul com Mir Houssein, Capitão-Mor do Sultão de Bijapur, e Melinde Iaz, Senhor de Diu, que haviam jurado expulsar da Índia os portugueses, e, depois de gravemente ferido, veio a falecer. O pai dirigiu-se ao mar de Diu e, a 3 de Fevereiro 1509, destruiu as armadas daqueles, juntamente com a do Samorim de Calecute.
A sua política era a do domínio dos mares e nesse sentido escreveu ao rei: ”Saiba certo que, enquanto no mar fordes poderoso, tereis a Índia por vossa, e, se isto não tiveres no mar, pouco vos prestará fortaleza em terra”.
Em 1506, partiu outra armada sob o comando de Tristão da Cunha, já refeito da cegueira, sendo um dos navios capitaneado por Afonso de Albuquerque, que tinha por missão a vigilância do Mar Vermelho, com apoio na ilha de Socotorá, a qual tomou de passagem. Albuquerque levava um documento secreto do Rei nomeando-o Governador da Índia ao fim de três anos do governo de D. Francisco de Almeida e, como tal, andou durante esse tempo no mar da Índia em guerra com os mouros, tomou curiate e Orfação e conquistou Ormuz.

Em Outubro de 1509, com ajuda do Marechal do Reino D. Francisco Coutinho, Afonso de Albuquerque assumiu o governo da Índia e seguidamente atacou a Calecute. Em Fevereiro de 1510 conquistou Goa, que perdeu em Maio face ao ataque de Yusuf Adil Khan (Idalcão), mas reconquistou-a em 25 de Novembro. Segundo consta, “a conquista de Goa por um povo estrangeiro de terra distante” tinha sido profetizada por um “jogui” (mendigo asceta).
Estava dado o primeiro passo para a realização do plano de Albuquerque, de transformar Goa no centro de um império no Oriente com os seus poderosos braços que viriam a ser Ormuz e Malaca. Para a execução do seu plano tomou várias medidas. Após a implementação de medidas, deixou Goa a cargo de Rodrigo Rebelo, comandante da fortaleza, organizou a sua administração e fomentou o comércio. Depois regressou a Goa e tomou a fortaleza de Benastarim.
Ao tempo, na Índia havia pessoas mal pagas e esquecidas, que andavam com Albuquerque nas conquistas, e outras, escolhidas pelo Rei, que viviam no luxo e o informavam conforme as suas conveniências. Afonso de Albuquerque, no entanto, continuou a dar execução aos seus planos e a 18 de Fevereiro de 1512 dirigiu-se a Aden, onde encontrou uma tenaz resistência e avançou até ao Mar Vermelho onde espalhou o medo. Em Fevereiro de 1515, por o Rei não lhe dar nenhum apoio, apoderou-se de novo de Ormuz, para buscar riqueza, e estava a erguer uma fortaleza quando se sentiu doente, motivo por que deu ordens de regresso a Goa. Veio a falecer à entrada de Goa.
A sua política foi de expansionismo, domínio efectivo em pontos estratégicos para apoio das armadas com a construção de fortalezas, implementação do plano para que Goa fosse o centro nevrálgico no Oriente e de fomento de uma civilização indo-portuguesa, através de casamentos de soldados portugueses com mulheres da Índia.
Dos três Governadores que se seguiram, Soares de Albergaria construiu uma fortaleza em Colombo, procurou contrariar a política seguida por Albuquerque, obscureceu a sua fama e regressou; Lopes de Sequeira edificou fortalezas em Coulão e Chaul e apossou-se da cidade de Maçua e D. Duarte de Menezes levantou a fortaleza de Ternate (Molucas), abandonou Paçem (Sumatra), perdeu terras firmes e Goa e teve uma actuação que deu azo a crescentes ataques por parte dos turcos e de outros vizinhos. Após a morte de Albuquerque, a política iniciada por aquele governante começou a ser desvirtuada e, consequentemente, começaram a surgir guerras intestinas, a disciplina começou a afrouxar, a corrupção a instalar-se, as dissensões e intrigas a aumentarem, aparecendo os primeiros sinais da decadência portuguesa no Oriente, e a surgir dificuldades para a defesa das terras em pontos tão dispersos e longínquos.
D. João III resolveu mandar D. Vasco da Gama para reestabelecer a disciplina entre os militares e a administração, e impor nos mares respeito ao inimigo. Chego em Setembro de 1524 e faleceu em Dezembro seguinte, mas em três meses conseguiu cumprir a sua missão e reestabelecer a ordem, pois no mar só a sua passagem foi suficiente devido ao fantasma do medo que criara na passagem anterior.
No governo de Lopo Vaz de Sampaio, o Capitão de Ormuz, Cristóvão de Mendonça, encarregou António Tenreiro de viajar por terra até Portugal e levar ao Rei notícias sobe o comércio dos mouros por essa via, tendo este iniciado a viagem em 1 de Outubro de 1528 e, depois de muitas aventuras, chegado a Lisboa a 22 de Maio de 1529.
Em 1529, pelo Tratado de Saragoça, Carlos V abdicou em favor de D. João III toda e qualquer pretensão sobre as Molucas. Em 1534 faleceu Ismail Adil Khan, sultão de Bijapur, filho de Yussuf Adil Khan que reinava naquele sultanado e era senhor de Goa quando Albuquerque a conquistou e devido à desinteligência entre os filhos daquele, Nuno da Cunha beneficiou de terras de um deles. Também o Bahadur de Cambaia ofereceu Baçaim, Bombaim, Caranja e Elefanta em troca de ajuda militar. Entretanto os dignatários mouros, instigados por Khoja-Safar, preparavam um ataque para expulsar os portugueses do Oriente, mas António da Silveira, após dura batalha, onde de parte a parte se perderam muitos homens, conquistou Diu, antes da chegada do novo Vice-Rei D. Garcia de Noronha. Em 1543, foram anexadas as províncias de Salsete e Bardês e os Portugueses chegaram ao Japão.
Estava dado o primeiro passo para a realização do plano de Albuquerque, de transformar Goa no centro de um império no Oriente com os seus poderosos braços que viriam a ser Ormuz e Malaca. Para a execução do seu plano tomou várias medidas. Após a implementação de medidas, deixou Goa a cargo de Rodrigo Rebelo, comandante da fortaleza, organizou a sua administração e fomentou o comércio. Depois regressou a Goa e tomou a fortaleza de Benastarim.
Ao tempo, na Índia havia pessoas mal pagas e esquecidas, que andavam com Albuquerque nas conquistas, e outras, escolhidas pelo Rei, que viviam no luxo e o informavam conforme as suas conveniências. Afonso de Albuquerque, no entanto, continuou a dar execução aos seus planos e a 18 de Fevereiro de 1512 dirigiu-se a Aden, onde encontrou uma tenaz resistência e avançou até ao Mar Vermelho onde espalhou o medo. Em Fevereiro de 1515, por o Rei não lhe dar nenhum apoio, apoderou-se de novo de Ormuz, para buscar riqueza, e estava a erguer uma fortaleza quando se sentiu doente, motivo por que deu ordens de regresso a Goa. Veio a falecer à entrada de Goa.
A sua política foi de expansionismo, domínio efectivo em pontos estratégicos para apoio das armadas com a construção de fortalezas, implementação do plano para que Goa fosse o centro nevrálgico no Oriente e de fomento de uma civilização indo-portuguesa, através de casamentos de soldados portugueses com mulheres da Índia.
Dos três Governadores que se seguiram, Soares de Albergaria construiu uma fortaleza em Colombo, procurou contrariar a política seguida por Albuquerque, obscureceu a sua fama e regressou; Lopes de Sequeira edificou fortalezas em Coulão e Chaul e apossou-se da cidade de Maçua e D. Duarte de Menezes levantou a fortaleza de Ternate (Molucas), abandonou Paçem (Sumatra), perdeu terras firmes e Goa e teve uma actuação que deu azo a crescentes ataques por parte dos turcos e de outros vizinhos. Após a morte de Albuquerque, a política iniciada por aquele governante começou a ser desvirtuada e, consequentemente, começaram a surgir guerras intestinas, a disciplina começou a afrouxar, a corrupção a instalar-se, as dissensões e intrigas a aumentarem, aparecendo os primeiros sinais da decadência portuguesa no Oriente, e a surgir dificuldades para a defesa das terras em pontos tão dispersos e longínquos.
D. João III resolveu mandar D. Vasco da Gama para reestabelecer a disciplina entre os militares e a administração, e impor nos mares respeito ao inimigo. Chego em Setembro de 1524 e faleceu em Dezembro seguinte, mas em três meses conseguiu cumprir a sua missão e reestabelecer a ordem, pois no mar só a sua passagem foi suficiente devido ao fantasma do medo que criara na passagem anterior.
No governo de Lopo Vaz de Sampaio, o Capitão de Ormuz, Cristóvão de Mendonça, encarregou António Tenreiro de viajar por terra até Portugal e levar ao Rei notícias sobe o comércio dos mouros por essa via, tendo este iniciado a viagem em 1 de Outubro de 1528 e, depois de muitas aventuras, chegado a Lisboa a 22 de Maio de 1529.
Em 1529, pelo Tratado de Saragoça, Carlos V abdicou em favor de D. João III toda e qualquer pretensão sobre as Molucas. Em 1534 faleceu Ismail Adil Khan, sultão de Bijapur, filho de Yussuf Adil Khan que reinava naquele sultanado e era senhor de Goa quando Albuquerque a conquistou e devido à desinteligência entre os filhos daquele, Nuno da Cunha beneficiou de terras de um deles. Também o Bahadur de Cambaia ofereceu Baçaim, Bombaim, Caranja e Elefanta em troca de ajuda militar. Entretanto os dignatários mouros, instigados por Khoja-Safar, preparavam um ataque para expulsar os portugueses do Oriente, mas António da Silveira, após dura batalha, onde de parte a parte se perderam muitos homens, conquistou Diu, antes da chegada do novo Vice-Rei D. Garcia de Noronha. Em 1543, foram anexadas as províncias de Salsete e Bardês e os Portugueses chegaram ao Japão.

Porém, devido à fraqueza e incúria de alguns governantes, a Índia começou a mergulhar novamente no abismo face à devassidão, revoltas, roubos e violências praticadas pelos soldados e deserções que engrossavam as fileiras inimigas com mercenários. Para pôr cobro a esta situação, foi enviado o Vice-Rei D. João de Castro que desfez o segundo cerco de Diu, subjugou Salcete e Pondá, tomou a cidade de Baroche, reestabeleceu a ordem na Índia e veio a falecer em 1548, pobre por gastar o seu salário com a alimentação de soldados. Em 5 de Setembro de 1561, o Vice-Rei, D. Constantino de Bragança tomou a ilha de Ceilão e posteriormente a de Manar, onde construiu uma fortaleza.
No Governo do Vice-Rei D. Antão de Noronha, o cirurgião-mor, Martim Afonso, partindo de Ormuz a 25 de Junho de 2565, viajou por terra e chegou a Lisboa em Agosto do ano seguinte.
O sonho de Albuquerque transformou-se em realidade entre 1550 e 1600, com Goa, Ormuz e Malaca, cidades fortificadas, feitorias estabelecidas, portos estratégicos e domínio dos mares. A capital situada em Goa era governada por um Vice-Rei ou Governador ao qual se subordinavam os Governadores de Moçambique, Ormuz, Mascate, Malaca e Ceilão. A capital tornou-se cada vez mais importante no Oriente, não só por ser um entreposto comercial, mas também devido à imponência dos seus edifícios, como o hospital, a misericórdia e igrejas e bem assim ao luxo dos seus habitantes. Era a cidade mais opulenta no Oriente onde se comerciavam os melhores cavalos, as mais finas sedas, as mais belas e cintilantes pedras preciosas, valiosos objectos feitos de ricos metais e uma diversidade de especiarias.
No Governo do Vice-Rei D. Antão de Noronha, o cirurgião-mor, Martim Afonso, partindo de Ormuz a 25 de Junho de 2565, viajou por terra e chegou a Lisboa em Agosto do ano seguinte.
O sonho de Albuquerque transformou-se em realidade entre 1550 e 1600, com Goa, Ormuz e Malaca, cidades fortificadas, feitorias estabelecidas, portos estratégicos e domínio dos mares. A capital situada em Goa era governada por um Vice-Rei ou Governador ao qual se subordinavam os Governadores de Moçambique, Ormuz, Mascate, Malaca e Ceilão. A capital tornou-se cada vez mais importante no Oriente, não só por ser um entreposto comercial, mas também devido à imponência dos seus edifícios, como o hospital, a misericórdia e igrejas e bem assim ao luxo dos seus habitantes. Era a cidade mais opulenta no Oriente onde se comerciavam os melhores cavalos, as mais finas sedas, as mais belas e cintilantes pedras preciosas, valiosos objectos feitos de ricos metais e uma diversidade de especiarias.
c) Declínio
A ambição e a perseguição religiosa movida aos goeses não católicos começaram a criar ódio e revolta neles. Não obstante a preocupação dos reis em mandar homens de confiança, pertencentes à nobreza, ricos (para não serem corrompidos), de certa idade (por terem maturidade) e experientes (para governarem bem), houve governantes que sobrepuseram os interesses pessoais aos da Pátria, outros que se descuidaram da governação e ainda outros que, por serem de avançada idade, manifestaram desinteresse. Para os potentados vizinhos, os portugueses já não eram heróis invencíveis, pois, ávidos de poder e de fortuna, esqueceram os seus deveres e contribuíram para a perda gradual do prestígio, do respeito e do medo das suas armas, o que deu origem a constantes ataques por terra e mar, individualmente ou em coligação, para expulsarem os portugueses.
Para além disto, a dinastia Filipina à frente dos destinos de Portugal veio esmorecer o ânimo dos portugueses no Oriente, tornando-os apáticos, quase sem brio e sem ânimo. No entanto, houve quem se esforçasse pela expansão do território, por repelir os ataques constantes dos reis vizinhos e dos piratas que já proliferavam no mar da Índia, atacando barcos mercantes. Face à dominação espanhola, os ingleses e holandeses tornaram-se mais ousados e quiseram apossar-se do comércio e usurpar o domínio português nos mares do Oriente. Em 1587, sete navios comandados por Francis Drake apresaram, junto aos Açores, a caravela de João Trigueiros e levaram a riqueza nela contida, para Inglaterra. Foi o início do avanço dos ingleses e holandeses em direcção aos mares do Oriente com investidas cada vez mais frequentes às possessões portuguesas a partir de 1595.
Os ataques em várias frentes, a falta de poderes dos Conselhos Governativos em relação aos Governadores e Vice-Reis, a política da dominação castelhana e, internamente, a desinteligência, a rivalidade, a inveja e a corrupção contribuíram para o enfraquecimento do poderio, e o Império do Oriente, construídos por uma plêiade de homens com denoto, suor, lágrimas, sangue e vidas, começou a ruir.
Os holandeses apossaram-se, em 1607 das fortalezas de Molucas e Sumatra, em 1639 de Baticala e em 1618 montaram um centro em Batávia que rivalizava com Malaca em especiarias. Em 1622 perdeu-se Ormuz em favor do Xá da Pérsia e depois Mascate.
Deu-se a Restauração da independência portuguesa em 1 de Dezembro de 1640 e subiu ao trono D. João IV, a quem se seguiu D. Luísa de Gusmão e depois D. Afonso VI, mas a derrocada no Oriente continuou com perdas a favor dos holandeses, de Malaca, em 1641, Ceilão em 1656, Coulão, Cranganor, Cananor e Cochim entre 1658-63, pois ainda continuava o efeito dos sessenta anos de dominação espanhola.
Pelo tratado firmado em 23 de Junho de 1661, foi cedida a ilha de Bombaim em dote pelo casamento da Infanta D. Catarina de Bragança com Carlos II, monarca de Inglaterra. O Vice-Rei António de Melo e Castro fez tudo para convencer o Rei a não ceder, mas, por imposição deste e muito contra a sua vontade, teve de assinar a ordem em 14 de Janeiro de 1665 e a 18 de Fevereiro efectuou-se a entrega.
Em 1668, surge mais um adversário bastante poderoso e destemido, o grande guerreiro Shivaju, que, revoltando-se contra a dominação maomeana conquistou as terras do Grão-Mogol Shah Jehan e dos sultão de Bijapur e fundou o império marata. Na continuação da expansão do seu império tentou por duas vezes conquistar Goa, mas foi repelido. Posteriormente, Sambaji, seu filho e sucessor, atravessando a cordilheira dos Gates com um poderoso exército ocupou o forte de Jua (S. Estêvão), no dia 24 de Novembro de 1683 e o Vice-Rei Francisco Távora, Conde de Alvor, com um punhado de homens, atacou-o, mas foram desbaratados. Sambaji, quando estava em condições vantajosas de ser senhor de Goa devido à supremacia das suas forças e o Vice-Rei português não ter forças suficientes para expulsá-lo, abandounou subitamente a fortaleza e saiu precipitadamente da ilha, segundo consta, para defender os seus estados atacados pelos mongóis.
A seguir, os mouros apossaram-se de Mombaça.
Nos finais do sec. XVII, do vasto Império restava Goa, Angediva, província do Norte, Moçambique, a feitoria de Surate, Macau, Timor e Solor.
Na terra firme surgiu mais um adversário, o audacioso Bounsuló, que começou a atacar e a flagelar a população de Goa. Kemá Saunto Bounsuló, feudatário de Bijapur, com a sua tropa, ocupou a fortaleza de Amonã e Bicholim, mas o Vice-Rei Caetano de Melo e Castro repeliu-o em Julho de 1705 e tomou as ilhas de Corjuém e Penelém, que lhe pertenciam.
No governo de Melo e Castro houve um facto que merece ser contado. Em 1700 inscreveu-se na casa da Índia, como praça, Baltazar de Couto Cardoso, de 18 anos de idade, e embarcou no mesmo ano para a Índia sob as ordens do Capitão do Forte de S. João Baptista, Afonso Teixeira Arrais de Melo, que depois foi Capitão de Chaul. Baltazar Cardoso distinguiu-se pela sua coragem, denoto, abnegação e valentia nos combates, nomeadamente em Amonã, Bicholim, Tivim e Chaul, onde ficou gravemente ferido e só então veio a saber-se que o soldado era do sexo feminino. Chamava-se Maria Úrsula de Abreu e Alencastre, natural do Rio de Janeiro, filha de João Abreu de Oliveira que, por motivos desconhecidos, fugira da casa paterna e do Brasil e em Lisboa alistara-se para combater na Índia sob o nome atrás referido, mas a aventura, que ainda foi longa, terminou em Chaul. Com muita mágoa teve de deixar as armas, uma vez que não era permitido, mas o Governo, grato pelos serviços prestados e pela sua coragem, concedeu-lhe em aforamento durante toda a sua vida, palmares (terreno com coqueiros) em Chaul, e a heroína veio a casar com o capitão do forte, Arrais de Melo, que fora seu superior hierárquico e companheiro de armas.
Os avanços e recuos contribuíram para alargar as fronteiras terrestres de Goa. O Vice-Rei Vasco César de Meneses travou batalhas com o temível Kanoji Angriá Serquel em 1713, e o Vice-Rei João Saldanha da Gama tomou o forte de Bicholim a Fondú Saunto Bounsuló e entregou-o ao seu filho Nagobá. Em Dezembro de 1727 ainda recuperou Mombaça, que tornou a voltar às mãos dos árabes em 1730.
No vice-reinado de D. Pedro Mascarenhas, Conde de Sandomil, o Peshwa (cargo semelhante a primeiro ministro) marata Bajirau, instigado pelos ingleses, apoderou-se do forte de Thaná e com um poderoso exército sitiou Baçaim, que capitulou a 17 de Maio de 1739. Com a queda de Baçaim, que era a capital da privíncia do Norte, mais conhecida por Corte do Norte, fundada pelo Governador Nuno da Cunha e governada por uma entidade denominada General do Norte, Portugal perdeu a dita província que compreendia as ilhas de Thaná, Salcete, Bombaim, Caranjá e Elefanta, e na terra firme Baçaim e Chaul, salvando-se porém Damão e a feitoria de Surrate. Também os bounsulé (exército de Bounsuló) ocuparam todas as fortalezas de Bardês e o general marata Venkata Rau tomou as fortalezas de Margão, Cuncolim e Rachol, na Província de Salcete.
Quando chegou o Vice-Rei, Conde de Ericeira, em 1741, Bounsuló retirou-se, assinando um tratado de paz, e Venkata Rau teve de evacuar Salcete face à perda das fortalezas de Pondá, Sanguém e Supém. Após o regresso do Vice-Rei a Portugal, e face à passividade dos que o sucederam, O Bounsuló, não respeitando o tratado, tomou e saqueou a províndia de Pondá, pelo que o Vice-Rei D. Pedro Miguel de Almeida Portugal, Marquês de Castelo Novo, logo após a posse, tomou de assalto Alornã, em Maio de 1746, uma das praças mais fortes do inimigo, e derrotou Gomá Saunto. A seguir tomou as praças de Bicholim, Manerim, Tiracol e Rarim, o forte de Neutim, em Dezembro de 1748, que era o último reduto do Bounsuló, livrando Goa de ficar esmagada sob pressão dos maratas e dos holandeses, o que era provável, se as praças não fossem conquistadas.
Em 1748, O Imperador Mogol ofereceu a D. António José de Noronha, ou Frei António da Purificação, natural de Goa Velha, pelos seus serviços, as aldeias de S. Tomé de Meliapur que este, por sua vez, ofereceu ao Rei de Portugal, e comunicou ao Vice-Rei, por carta de 18 de Agosto de 1749. O Vice-Rei, face as dificuldades em mandar um Governador, nomeou-o procurador mas, entretanto, os ingleses tomaram S. Tomé de Meliapur e levaram António de Noronha preso para Londres, donde passou para Paris e foi recebido por Luís XV, que o nomeou Bispo de Halicarnasse.
O Marquês de Távora, Francisco Assis de Távora, desfez o cerco de Bonsuló e maratas a Neutim, tomou Piro e Ximpém em 1752, e depois as províncias de Pondá e Zambaulim ao Rei de Sundém (Sunda) que, em 1754, assinou um tratado de paz, mas o Vice-Rei seguinte, D. Luís de Mascarenhas, por ordens superiores, devolveu ao Bounsuló Rarim e Neutim, em Novembro de 1754, e ao Rei de Sundém, Pondá, Sanguém e Zambaulim e seguidamente estabeleceu a fronteira norte.
Entretanto, por decreto de D. José I, em 1752, Moçambique deixou de estar sob a jurisdição do Estado da Índia para fazer parte da África Oriental e ficar dependente da Coroa, e o Marquês do Pombal, Primeiro-Ministro de D. José I, promulgou diplomas tendentes ao restabelecimento do poder português e à ordem no Oriente (…).
O Vice-Rei Manuel de Saldanha e Albuquerque, Conde de Ega, recuperou em 1763 Pondá, Zambaulim e Canácona mas, por impossibilidade de poder defender todas as praças, foi obrigado a entregar ao Bounsuló os fortes de Bicholim e Alornã e ao Rei de Sundém os de Piro e Ximpém, por decisão superior. Em 1771 Pondá passou de facto ao domínio Português.
Por alvará de 15 de Janeiro de 1774 foi remodelada a administração civil, militar, política, financeira e eclesiástica na Índia portuguesa e por carta régia de 9 de Abril de 1778 foi Criado o Conselho Legislativo.
Pelo tratado de 6 de Janeiro de 1780, assinado em Poona, os maratas cederam Nagar-Aveli aos portugueses. Nagar-Aveli separava-se de Damão por uma estreita faixa de terra de cerca de 5 a 7 milhas de largura pertencente ao governo britânico. Em 1782, o Governador D. Frederico Guilherme de Sousa conquistou Bicholim pela última vez ao Bounsuló e em 1788, este fez um tratado com o Governador Francisco Meneses cedendo a província de Perném e pondo fim definitivamente às escaramuças com os portugueses. Em 1787 houve uma sublevação, conhecida como “conjuração dos Pintos”, que se abortou. Em 1799, no governo de Francisco da Veiga Cabral, os ingleses, sob o comando do Coronel William Clarck e a pretexto de ajuda contra os franceses, entraram e permaneceram em Goa até à assinatura da Paz de Amiens, mas votaram em 1802, ocuparam várias fortalezas estratégicas e retiraram-se em 1813, face às reclamações do governo português junto de Londres. Em 1812 foi extinto, pela segunda vez e definitivamente, o Tribunal do Santo Ofício. Em 1835, pela primeira vez em toda a história da Índia, foi nomeado Prefeito (correspondente a Governador) um oriundo de Goa, Bernardo Peres da Silva, médico e deputado às cortes, mas ao fim de 17 dias foi deposto pelo Governador Militar que o próprio Perfeito trouxera de Lisboa e nomeara para aquele cargo, por ser da sua confiança. Seguiu-se um período conturbado em que Goa foi governada por uma Junta Provisional enquanto Damão e Diu se mantiveram fiéis ao Prefeito, que se refugiara em Bombaim. Esta situação manteve-se até à chegada do Governador Simão Lacerda, em 1837, que acabou com a situação anárquica.
Nos princípios do sec. XIX, no Oriente continuavam apenas Goa, com as Novas conquistas anexadas, Damão, Diu, a feitoria de Surrate, Macau, Timor e Solor.
No governo de José Ferreira Pestana, por decreto de 20 de Setembro de 1844, Macau, Timor e Solor deixaram de estar sob a jurisdição do governo do Estado da Índia, para terem um Governador-Geral residente em Macau, ficando aquele apenas com Goa, Damão e Diu.
A preocupação dos Governos passou a ser defenderem-se dos ataques e terra firme de Goa pelos ranes e bounsulé, que, atravessando as fronteiras, assolavam o território, muitas vezes com conivência das autoridades britânicas, dado que os territórios circundantes estavam já nas mãos destas. Os governantes, ocupados com a defesa dos territórios, descuraram outras medidas tendentes ao desenvolvimento. No entanto, o Governador Francisco Silva Pereira introduziu em 1842 várias reformas administrativas e militares e Panjim foi elevada a cidade, passando a denominar-se Nova Goa, em contraste com a antiga cidade dos Vice-Reis, que passou a ser conhecida como Velha Goa ou Velha Cidade, e o Governador José Ferreira Pestana deu início a um sistema de comunicações entre Nova Goa, Salcete e Bardês. No governo de António Vasconcelos Correia houve um desenvolvimento nas comunicações: em 1858 foi inaugurada a estrada de Verém – Sawantvadi, que, atravessando a fronteira Norte, comunicava com os domínios britânicos e, em 1859 foi construída a estrada que atravessava Nova Goa – Santa Cruz – S. Lourenço – Salcete – Canaconá, que dava acesso pelo Sul ao território britânico. Nesse ano, além da introdução do sistema telegráfico, foram demarcadas as fronteiras da jurisdição de Damão e Diu.
Em 2 de Maio de 1863 focaram definidas as fronteiras de Damão e Nagar-Aveli, entre os governos português e britânico.
Em 1869 foi abolida a escravatura em todas as possessões.
As relações com o governo britânico melhoraram e foram assinados, em 1874, um contrato com a British India Steam Navigation Company para a exploração dos percursos Lisboa – Goa e Lisboa – Moçambique, em 1878 um tratado luso-britânico para a ligação ferroviária Mormugão-Hubli, que começou a funcionar em 17 de Janeiro de 1887, e em 1880 uma Convenção Luso-Britânica sobre as moedas.
A feitoria que continuou após a conquista de Surrate pelos ingleses aos mongóis, em 1800, foi extinta em 1880.
Em 1894, no governo de Elesbão Lapa, deu-se a revolta dos soldados maratas, que se recusaram a embarcar para Moçambique e, desertanto, ocuparam o forte de Nanuz, em Satari, onde tiveram o apoio dos ranes e dos aldeões. Para debelar a revolta, veio o Infante D. Afonso Henriques, irmão de El-Rei D. Carlos, com o título de Vice-Rei, que pacificou e regressou.
A amnistia concedida em 9 de Setembro de 1897, a convenção com o Governo Britânico para a extradição dos criminosos e as medidas tendentes à distribuição equitativa das terras contribuíram para a pacificação do território e para o declínio das revoltas.
A partir de 1912 deixaram de haver escaramuças e ataques dos ingleses, holandeses, bounsulé e ranés. Após avanços e recuos durante séculos, fixaram-se enfim, em definitivo, as fronteiras de Goa, que confinavam ao norte com Sawantvadi, ao sul com Canará, ao oriente com a cordilheira dos Gates e ao ocidente com o Oceano Índico, e se mantiveram até ao fim. Os governantes puderam enfim respirar de alívio e debruçar-se sobre as reformas necessárias para o desenvolvimento económico do território.
Em 1923 é estabelecida a linha telegráfica Nova-Goa/Bombaim. Em 1930 aterra pela primeira vez no planalto de Mormugão o avião Marão, tripulado por Moreira Cardoso e Sarmento Pimentel, estabelecendo uma ligação aérea entre Portugal e Índia.
Em 1931, os correios estabeleceram o contacto por via rádio. Em 1931 é introduzida a electricidade em Nova-Goa. Em 1933 o Estado da Índia é considerado colónia e abrangido pela reforma Administrativa Ultramarina e Carta do Império Colonial, publicados nesse ano, o que provocou grande descontentamento.
Para além disto, a dinastia Filipina à frente dos destinos de Portugal veio esmorecer o ânimo dos portugueses no Oriente, tornando-os apáticos, quase sem brio e sem ânimo. No entanto, houve quem se esforçasse pela expansão do território, por repelir os ataques constantes dos reis vizinhos e dos piratas que já proliferavam no mar da Índia, atacando barcos mercantes. Face à dominação espanhola, os ingleses e holandeses tornaram-se mais ousados e quiseram apossar-se do comércio e usurpar o domínio português nos mares do Oriente. Em 1587, sete navios comandados por Francis Drake apresaram, junto aos Açores, a caravela de João Trigueiros e levaram a riqueza nela contida, para Inglaterra. Foi o início do avanço dos ingleses e holandeses em direcção aos mares do Oriente com investidas cada vez mais frequentes às possessões portuguesas a partir de 1595.
Os ataques em várias frentes, a falta de poderes dos Conselhos Governativos em relação aos Governadores e Vice-Reis, a política da dominação castelhana e, internamente, a desinteligência, a rivalidade, a inveja e a corrupção contribuíram para o enfraquecimento do poderio, e o Império do Oriente, construídos por uma plêiade de homens com denoto, suor, lágrimas, sangue e vidas, começou a ruir.
Os holandeses apossaram-se, em 1607 das fortalezas de Molucas e Sumatra, em 1639 de Baticala e em 1618 montaram um centro em Batávia que rivalizava com Malaca em especiarias. Em 1622 perdeu-se Ormuz em favor do Xá da Pérsia e depois Mascate.
Deu-se a Restauração da independência portuguesa em 1 de Dezembro de 1640 e subiu ao trono D. João IV, a quem se seguiu D. Luísa de Gusmão e depois D. Afonso VI, mas a derrocada no Oriente continuou com perdas a favor dos holandeses, de Malaca, em 1641, Ceilão em 1656, Coulão, Cranganor, Cananor e Cochim entre 1658-63, pois ainda continuava o efeito dos sessenta anos de dominação espanhola.
Pelo tratado firmado em 23 de Junho de 1661, foi cedida a ilha de Bombaim em dote pelo casamento da Infanta D. Catarina de Bragança com Carlos II, monarca de Inglaterra. O Vice-Rei António de Melo e Castro fez tudo para convencer o Rei a não ceder, mas, por imposição deste e muito contra a sua vontade, teve de assinar a ordem em 14 de Janeiro de 1665 e a 18 de Fevereiro efectuou-se a entrega.
Em 1668, surge mais um adversário bastante poderoso e destemido, o grande guerreiro Shivaju, que, revoltando-se contra a dominação maomeana conquistou as terras do Grão-Mogol Shah Jehan e dos sultão de Bijapur e fundou o império marata. Na continuação da expansão do seu império tentou por duas vezes conquistar Goa, mas foi repelido. Posteriormente, Sambaji, seu filho e sucessor, atravessando a cordilheira dos Gates com um poderoso exército ocupou o forte de Jua (S. Estêvão), no dia 24 de Novembro de 1683 e o Vice-Rei Francisco Távora, Conde de Alvor, com um punhado de homens, atacou-o, mas foram desbaratados. Sambaji, quando estava em condições vantajosas de ser senhor de Goa devido à supremacia das suas forças e o Vice-Rei português não ter forças suficientes para expulsá-lo, abandounou subitamente a fortaleza e saiu precipitadamente da ilha, segundo consta, para defender os seus estados atacados pelos mongóis.
A seguir, os mouros apossaram-se de Mombaça.
Nos finais do sec. XVII, do vasto Império restava Goa, Angediva, província do Norte, Moçambique, a feitoria de Surate, Macau, Timor e Solor.
Na terra firme surgiu mais um adversário, o audacioso Bounsuló, que começou a atacar e a flagelar a população de Goa. Kemá Saunto Bounsuló, feudatário de Bijapur, com a sua tropa, ocupou a fortaleza de Amonã e Bicholim, mas o Vice-Rei Caetano de Melo e Castro repeliu-o em Julho de 1705 e tomou as ilhas de Corjuém e Penelém, que lhe pertenciam.
No governo de Melo e Castro houve um facto que merece ser contado. Em 1700 inscreveu-se na casa da Índia, como praça, Baltazar de Couto Cardoso, de 18 anos de idade, e embarcou no mesmo ano para a Índia sob as ordens do Capitão do Forte de S. João Baptista, Afonso Teixeira Arrais de Melo, que depois foi Capitão de Chaul. Baltazar Cardoso distinguiu-se pela sua coragem, denoto, abnegação e valentia nos combates, nomeadamente em Amonã, Bicholim, Tivim e Chaul, onde ficou gravemente ferido e só então veio a saber-se que o soldado era do sexo feminino. Chamava-se Maria Úrsula de Abreu e Alencastre, natural do Rio de Janeiro, filha de João Abreu de Oliveira que, por motivos desconhecidos, fugira da casa paterna e do Brasil e em Lisboa alistara-se para combater na Índia sob o nome atrás referido, mas a aventura, que ainda foi longa, terminou em Chaul. Com muita mágoa teve de deixar as armas, uma vez que não era permitido, mas o Governo, grato pelos serviços prestados e pela sua coragem, concedeu-lhe em aforamento durante toda a sua vida, palmares (terreno com coqueiros) em Chaul, e a heroína veio a casar com o capitão do forte, Arrais de Melo, que fora seu superior hierárquico e companheiro de armas.
Os avanços e recuos contribuíram para alargar as fronteiras terrestres de Goa. O Vice-Rei Vasco César de Meneses travou batalhas com o temível Kanoji Angriá Serquel em 1713, e o Vice-Rei João Saldanha da Gama tomou o forte de Bicholim a Fondú Saunto Bounsuló e entregou-o ao seu filho Nagobá. Em Dezembro de 1727 ainda recuperou Mombaça, que tornou a voltar às mãos dos árabes em 1730.
No vice-reinado de D. Pedro Mascarenhas, Conde de Sandomil, o Peshwa (cargo semelhante a primeiro ministro) marata Bajirau, instigado pelos ingleses, apoderou-se do forte de Thaná e com um poderoso exército sitiou Baçaim, que capitulou a 17 de Maio de 1739. Com a queda de Baçaim, que era a capital da privíncia do Norte, mais conhecida por Corte do Norte, fundada pelo Governador Nuno da Cunha e governada por uma entidade denominada General do Norte, Portugal perdeu a dita província que compreendia as ilhas de Thaná, Salcete, Bombaim, Caranjá e Elefanta, e na terra firme Baçaim e Chaul, salvando-se porém Damão e a feitoria de Surrate. Também os bounsulé (exército de Bounsuló) ocuparam todas as fortalezas de Bardês e o general marata Venkata Rau tomou as fortalezas de Margão, Cuncolim e Rachol, na Província de Salcete.
Quando chegou o Vice-Rei, Conde de Ericeira, em 1741, Bounsuló retirou-se, assinando um tratado de paz, e Venkata Rau teve de evacuar Salcete face à perda das fortalezas de Pondá, Sanguém e Supém. Após o regresso do Vice-Rei a Portugal, e face à passividade dos que o sucederam, O Bounsuló, não respeitando o tratado, tomou e saqueou a províndia de Pondá, pelo que o Vice-Rei D. Pedro Miguel de Almeida Portugal, Marquês de Castelo Novo, logo após a posse, tomou de assalto Alornã, em Maio de 1746, uma das praças mais fortes do inimigo, e derrotou Gomá Saunto. A seguir tomou as praças de Bicholim, Manerim, Tiracol e Rarim, o forte de Neutim, em Dezembro de 1748, que era o último reduto do Bounsuló, livrando Goa de ficar esmagada sob pressão dos maratas e dos holandeses, o que era provável, se as praças não fossem conquistadas.
Em 1748, O Imperador Mogol ofereceu a D. António José de Noronha, ou Frei António da Purificação, natural de Goa Velha, pelos seus serviços, as aldeias de S. Tomé de Meliapur que este, por sua vez, ofereceu ao Rei de Portugal, e comunicou ao Vice-Rei, por carta de 18 de Agosto de 1749. O Vice-Rei, face as dificuldades em mandar um Governador, nomeou-o procurador mas, entretanto, os ingleses tomaram S. Tomé de Meliapur e levaram António de Noronha preso para Londres, donde passou para Paris e foi recebido por Luís XV, que o nomeou Bispo de Halicarnasse.
O Marquês de Távora, Francisco Assis de Távora, desfez o cerco de Bonsuló e maratas a Neutim, tomou Piro e Ximpém em 1752, e depois as províncias de Pondá e Zambaulim ao Rei de Sundém (Sunda) que, em 1754, assinou um tratado de paz, mas o Vice-Rei seguinte, D. Luís de Mascarenhas, por ordens superiores, devolveu ao Bounsuló Rarim e Neutim, em Novembro de 1754, e ao Rei de Sundém, Pondá, Sanguém e Zambaulim e seguidamente estabeleceu a fronteira norte.
Entretanto, por decreto de D. José I, em 1752, Moçambique deixou de estar sob a jurisdição do Estado da Índia para fazer parte da África Oriental e ficar dependente da Coroa, e o Marquês do Pombal, Primeiro-Ministro de D. José I, promulgou diplomas tendentes ao restabelecimento do poder português e à ordem no Oriente (…).
O Vice-Rei Manuel de Saldanha e Albuquerque, Conde de Ega, recuperou em 1763 Pondá, Zambaulim e Canácona mas, por impossibilidade de poder defender todas as praças, foi obrigado a entregar ao Bounsuló os fortes de Bicholim e Alornã e ao Rei de Sundém os de Piro e Ximpém, por decisão superior. Em 1771 Pondá passou de facto ao domínio Português.
Por alvará de 15 de Janeiro de 1774 foi remodelada a administração civil, militar, política, financeira e eclesiástica na Índia portuguesa e por carta régia de 9 de Abril de 1778 foi Criado o Conselho Legislativo.
Pelo tratado de 6 de Janeiro de 1780, assinado em Poona, os maratas cederam Nagar-Aveli aos portugueses. Nagar-Aveli separava-se de Damão por uma estreita faixa de terra de cerca de 5 a 7 milhas de largura pertencente ao governo britânico. Em 1782, o Governador D. Frederico Guilherme de Sousa conquistou Bicholim pela última vez ao Bounsuló e em 1788, este fez um tratado com o Governador Francisco Meneses cedendo a província de Perném e pondo fim definitivamente às escaramuças com os portugueses. Em 1787 houve uma sublevação, conhecida como “conjuração dos Pintos”, que se abortou. Em 1799, no governo de Francisco da Veiga Cabral, os ingleses, sob o comando do Coronel William Clarck e a pretexto de ajuda contra os franceses, entraram e permaneceram em Goa até à assinatura da Paz de Amiens, mas votaram em 1802, ocuparam várias fortalezas estratégicas e retiraram-se em 1813, face às reclamações do governo português junto de Londres. Em 1812 foi extinto, pela segunda vez e definitivamente, o Tribunal do Santo Ofício. Em 1835, pela primeira vez em toda a história da Índia, foi nomeado Prefeito (correspondente a Governador) um oriundo de Goa, Bernardo Peres da Silva, médico e deputado às cortes, mas ao fim de 17 dias foi deposto pelo Governador Militar que o próprio Perfeito trouxera de Lisboa e nomeara para aquele cargo, por ser da sua confiança. Seguiu-se um período conturbado em que Goa foi governada por uma Junta Provisional enquanto Damão e Diu se mantiveram fiéis ao Prefeito, que se refugiara em Bombaim. Esta situação manteve-se até à chegada do Governador Simão Lacerda, em 1837, que acabou com a situação anárquica.
Nos princípios do sec. XIX, no Oriente continuavam apenas Goa, com as Novas conquistas anexadas, Damão, Diu, a feitoria de Surrate, Macau, Timor e Solor.
No governo de José Ferreira Pestana, por decreto de 20 de Setembro de 1844, Macau, Timor e Solor deixaram de estar sob a jurisdição do governo do Estado da Índia, para terem um Governador-Geral residente em Macau, ficando aquele apenas com Goa, Damão e Diu.
A preocupação dos Governos passou a ser defenderem-se dos ataques e terra firme de Goa pelos ranes e bounsulé, que, atravessando as fronteiras, assolavam o território, muitas vezes com conivência das autoridades britânicas, dado que os territórios circundantes estavam já nas mãos destas. Os governantes, ocupados com a defesa dos territórios, descuraram outras medidas tendentes ao desenvolvimento. No entanto, o Governador Francisco Silva Pereira introduziu em 1842 várias reformas administrativas e militares e Panjim foi elevada a cidade, passando a denominar-se Nova Goa, em contraste com a antiga cidade dos Vice-Reis, que passou a ser conhecida como Velha Goa ou Velha Cidade, e o Governador José Ferreira Pestana deu início a um sistema de comunicações entre Nova Goa, Salcete e Bardês. No governo de António Vasconcelos Correia houve um desenvolvimento nas comunicações: em 1858 foi inaugurada a estrada de Verém – Sawantvadi, que, atravessando a fronteira Norte, comunicava com os domínios britânicos e, em 1859 foi construída a estrada que atravessava Nova Goa – Santa Cruz – S. Lourenço – Salcete – Canaconá, que dava acesso pelo Sul ao território britânico. Nesse ano, além da introdução do sistema telegráfico, foram demarcadas as fronteiras da jurisdição de Damão e Diu.
Em 2 de Maio de 1863 focaram definidas as fronteiras de Damão e Nagar-Aveli, entre os governos português e britânico.
Em 1869 foi abolida a escravatura em todas as possessões.
As relações com o governo britânico melhoraram e foram assinados, em 1874, um contrato com a British India Steam Navigation Company para a exploração dos percursos Lisboa – Goa e Lisboa – Moçambique, em 1878 um tratado luso-britânico para a ligação ferroviária Mormugão-Hubli, que começou a funcionar em 17 de Janeiro de 1887, e em 1880 uma Convenção Luso-Britânica sobre as moedas.
A feitoria que continuou após a conquista de Surrate pelos ingleses aos mongóis, em 1800, foi extinta em 1880.
Em 1894, no governo de Elesbão Lapa, deu-se a revolta dos soldados maratas, que se recusaram a embarcar para Moçambique e, desertanto, ocuparam o forte de Nanuz, em Satari, onde tiveram o apoio dos ranes e dos aldeões. Para debelar a revolta, veio o Infante D. Afonso Henriques, irmão de El-Rei D. Carlos, com o título de Vice-Rei, que pacificou e regressou.
A amnistia concedida em 9 de Setembro de 1897, a convenção com o Governo Britânico para a extradição dos criminosos e as medidas tendentes à distribuição equitativa das terras contribuíram para a pacificação do território e para o declínio das revoltas.
A partir de 1912 deixaram de haver escaramuças e ataques dos ingleses, holandeses, bounsulé e ranés. Após avanços e recuos durante séculos, fixaram-se enfim, em definitivo, as fronteiras de Goa, que confinavam ao norte com Sawantvadi, ao sul com Canará, ao oriente com a cordilheira dos Gates e ao ocidente com o Oceano Índico, e se mantiveram até ao fim. Os governantes puderam enfim respirar de alívio e debruçar-se sobre as reformas necessárias para o desenvolvimento económico do território.
Em 1923 é estabelecida a linha telegráfica Nova-Goa/Bombaim. Em 1930 aterra pela primeira vez no planalto de Mormugão o avião Marão, tripulado por Moreira Cardoso e Sarmento Pimentel, estabelecendo uma ligação aérea entre Portugal e Índia.
Em 1931, os correios estabeleceram o contacto por via rádio. Em 1931 é introduzida a electricidade em Nova-Goa. Em 1933 o Estado da Índia é considerado colónia e abrangido pela reforma Administrativa Ultramarina e Carta do Império Colonial, publicados nesse ano, o que provocou grande descontentamento.
d) Fim do Império
A 15 de Agosto de 1947 a Grã-Bretanha concedeu a independência aos territórios sob o seu domínio, conhecidos por Índia Inglesa ou Britânica, mas dividindo-o em duas partes, a Índia e o Paquistão. A primeira com predominância hindu e a segunda muçulmana, o que veio a aprofundar mais a rivalidade existente entre os seguidores das duas religiões.
Essa independência veio abalar a estabilidade portuguesa na Índia.
Não obstante a resposta de Gandhi a 11 de Agosto do mesmo ano, tranquilizando o Governador Ferreira Bossa, pelo conteúdo da sua carta quanto ao futuro das possessões portuguesas na Índia, Nehru afirmou logo no final de uma conferência que a União Indiana dava todo o apoio ao povo de Goa para este conseguir a sua libertação, acrescentando que Goa “era um cravo, na face da Índia, que tinha que ser removido”.
Em 30 de Janeiro de 1948 é assassinado Gandhi, o pai da nação indiana, o grande pacifista, com uma personalidade vincada, que conseguiu, com muito sacrifício e principalmente com a sua doutrina de não-violência, a independência daquela que foi a Índia Inglesa ou Britânica.
Em Maio do mesmo ano, o Dr. António Bruto da Costa, de Margão, Goa, defensor de uma autonomia administrativa do Estado da Índia, escreveu a Salazar nesse sentido e condenou os aspectos negativos da política ultramarina, com consequências imprevisíveis para o futuro do estado.
Nova Delhi começou a pressionar para a extinção do Padroado Português e Nehru voltou a afirmar que “Goa faz parte da União Indiana e deve ser integrada nela”. Em Fevereiro de 1950 solicitou ao governo português negociações sobre o futuro das colónias na Índia, mas este foi intransigente.
Em 1951 começaram as primeiras infiltrações dos elementos vindos da União Indiana. Em 1953 Santa Sé delimita a esfera de acção do Padroado Português no Oriente aos territórios do Estado da Índia, e em 27 de Junho desse ano a Lei Orgânica do Ultramar determina que as possessões no ultramar passam a ser Províncias Ultramarinas que, em conjunto com a Metrópole, constituem um todo. Nesse mesmo ano, o governo da Índia retira o seu diplomata, impõe bloqueio económico e dificulta a circulação de pessoas e funcionários públicos no seu território, o que faz deteriorar cada vez mais as relações entre os dois governos. O citado bloqueio contribui para o despertar do desenvolvimento económico do Estado Português da Índia, além da ligação aérea Goa – Lisboa pelos Transportes Aéreos da Índia Portuguesa – TAIP.
Em 1954 os enclaves de Dadrá e Nagar-Aveli são isolados de contacto com Damão e ocupados militarmente pela União Indiana, resultando daí que o chefe da polícia de Dadrá, Aniceto do Rosário, natural de Damão, ferido gravemente em combate, enrolou-se na bandeira portuguesa e morreu. A reclamação do Presidente do Conselho de Portugal, Oliveira Salazar, não produziu efeito junto das autoridades indianas, mas o Tribunal Internacional de Justiça, em Haia, por sentença de 12 de Abril de 1960, reconheceu a soberania portuguesa sobre os dois territórios ocupados e o direito da passagem de Damão para os dois enclaves.
Os acontecimentos começaram a precipitar-se com violações das fronteiras, assaltos, atentados, manifestações da rua e o aperto do bloqueio aos territórios de Goa, Damão e Diu, com consequentes repressões por parte das autoridades portuguesas. A 4 de Dezembro de 1958 tomou posse o Governador-Geral Manuel Vassalo e Silva. Este, paralelamente ao esforço para dominar a situação, começou a desenvolver a sua actividade em prol do desenvolvimento, rasgando estradas, construindo pontes, abrindo escolas e investindo em vários outros melhoramentos, mas não conseguiu ir muito além, porque o clima de tensão adensou-se cada vez mais, encorajado com a pretensão do Primeiro-Ministro indiano Nehru, de os portugueses abandonarem o Estado da Índia.
Em 1961 a situação é bastante tensa com o corte de relações e a União Indiana a mostrar-se decidida a resolver o conflito pelas armas. Assim, na madrugada de 18 de Dezembro de 1961, as forças indianas penetraram em direcção à capital, com quarenta e cinco mil homens secundados pela aviação que entrava em acção quando os primeiros encontravam resistência e no mar uma esquadra fechava o cerco. A defesa dos territórios de Goa, Damão e Diu resumia-se ao exército com três mil e quinhentos homens, à marinha, com o aviso de 1.ªaclasse “Afonso de Albuquerque”, e três pequenas lanchas de fiscalização, e à força aérea, sem qualquer avião, uma vez que o chefe do governo português, Salazar, estava convencido de que Nehru, devido à sua política de pacifismo, nunca tomaria Goa pela força das armas, mas a sua convicção traiu-o.
Às sete horas foram bombardeados pela aviação os pontos estratégicos: as pistas do aeroporto de Dambolim e a Emissora de Goa em Bambolim, cortando as vias de comunicação aérea e rádio. O aeroporto foi novamente bombardeado às 7:30 e às 11:30. Ao meio dia, o aviso “Afonso de Albuquerque” avançou e travou uma batalha naval com a esquadra indiana que cercava a faixa costeira, mas ao fim de algum tempo ficou fora de combate, com o seu comandante varado por um estilhaço de granada, depois de ter atingido um dos barcos inimigos.
Na verdade, Afonso de Albuquerque em pessoa conquistou Goa em 1510 e agora era o navio de guerra com o nome desse capitão, que, honrando o nome a bandeira que ostentava, defendia heroicamente e até à exaustão o que ali conquistara. Com as forças indianas, após a queda da capital, Panjim, a fecharem o cerco ao último reduto, para onde se retirara o Governador Vassalo e Silva, que, devido à desproporção tremenda das forças, cercado por terra, mar e ar, se rendeu no dia 19, pelas 14 horas, para evitar um holocausto.
O general Ghaudhury, das forças indianas, deslocou-se pessoalmente ao hospital para felicitar o comandante do aviso, Capitão-de-mar-e-guerra, António da Cunha Aragão, pela sua bravura ao enfrentar os vasos de guerra indianos, e a Mormugão para cumprimentar e felicitar o General Vassalo e silva pela actuação das forças portuguesas, em Bicholim, Mapuça, Damão e Diu, não obstante os fracos meios que possuíam. Os militares ficaram prisioneiros e só em fins de Maio foram repatriados.
A perda desta preciosa jóia da coroa portuguesa, um rude golpe para Portugal, foi o início do desabar do resto do Império, que aos poucos e poucos se desfez, face à descolonização a partir de 1976, continuando apenas Macau, que em 1999 passa para a soberania chinesa.
No rincão tão querido do grande Albuquerque, a menina dos seus olhos, após quatro séculos e meio, deixou de flutuar a bandeira verde-rubra. Portugal regressou angustiado, mas deixou amizade e legou para a posteridade a sã convivência entre as três religiões – cristã, hindu e maometana – e ainda a cultura indi-portuguesa, resultante do convívio multi-secular, um misto de oriental e ocidental, profundamente enraizado nos hábitos, usos, costumes e tradições do pacífico, afável e hospitaleiro povo que constituiu o ESTADO PORTUGUÊS DA ÍNDIA, conhecido em outros tempos por ÍNDIA.
Essa independência veio abalar a estabilidade portuguesa na Índia.
Não obstante a resposta de Gandhi a 11 de Agosto do mesmo ano, tranquilizando o Governador Ferreira Bossa, pelo conteúdo da sua carta quanto ao futuro das possessões portuguesas na Índia, Nehru afirmou logo no final de uma conferência que a União Indiana dava todo o apoio ao povo de Goa para este conseguir a sua libertação, acrescentando que Goa “era um cravo, na face da Índia, que tinha que ser removido”.
Em 30 de Janeiro de 1948 é assassinado Gandhi, o pai da nação indiana, o grande pacifista, com uma personalidade vincada, que conseguiu, com muito sacrifício e principalmente com a sua doutrina de não-violência, a independência daquela que foi a Índia Inglesa ou Britânica.
Em Maio do mesmo ano, o Dr. António Bruto da Costa, de Margão, Goa, defensor de uma autonomia administrativa do Estado da Índia, escreveu a Salazar nesse sentido e condenou os aspectos negativos da política ultramarina, com consequências imprevisíveis para o futuro do estado.
Nova Delhi começou a pressionar para a extinção do Padroado Português e Nehru voltou a afirmar que “Goa faz parte da União Indiana e deve ser integrada nela”. Em Fevereiro de 1950 solicitou ao governo português negociações sobre o futuro das colónias na Índia, mas este foi intransigente.
Em 1951 começaram as primeiras infiltrações dos elementos vindos da União Indiana. Em 1953 Santa Sé delimita a esfera de acção do Padroado Português no Oriente aos territórios do Estado da Índia, e em 27 de Junho desse ano a Lei Orgânica do Ultramar determina que as possessões no ultramar passam a ser Províncias Ultramarinas que, em conjunto com a Metrópole, constituem um todo. Nesse mesmo ano, o governo da Índia retira o seu diplomata, impõe bloqueio económico e dificulta a circulação de pessoas e funcionários públicos no seu território, o que faz deteriorar cada vez mais as relações entre os dois governos. O citado bloqueio contribui para o despertar do desenvolvimento económico do Estado Português da Índia, além da ligação aérea Goa – Lisboa pelos Transportes Aéreos da Índia Portuguesa – TAIP.
Em 1954 os enclaves de Dadrá e Nagar-Aveli são isolados de contacto com Damão e ocupados militarmente pela União Indiana, resultando daí que o chefe da polícia de Dadrá, Aniceto do Rosário, natural de Damão, ferido gravemente em combate, enrolou-se na bandeira portuguesa e morreu. A reclamação do Presidente do Conselho de Portugal, Oliveira Salazar, não produziu efeito junto das autoridades indianas, mas o Tribunal Internacional de Justiça, em Haia, por sentença de 12 de Abril de 1960, reconheceu a soberania portuguesa sobre os dois territórios ocupados e o direito da passagem de Damão para os dois enclaves.
Os acontecimentos começaram a precipitar-se com violações das fronteiras, assaltos, atentados, manifestações da rua e o aperto do bloqueio aos territórios de Goa, Damão e Diu, com consequentes repressões por parte das autoridades portuguesas. A 4 de Dezembro de 1958 tomou posse o Governador-Geral Manuel Vassalo e Silva. Este, paralelamente ao esforço para dominar a situação, começou a desenvolver a sua actividade em prol do desenvolvimento, rasgando estradas, construindo pontes, abrindo escolas e investindo em vários outros melhoramentos, mas não conseguiu ir muito além, porque o clima de tensão adensou-se cada vez mais, encorajado com a pretensão do Primeiro-Ministro indiano Nehru, de os portugueses abandonarem o Estado da Índia.
Em 1961 a situação é bastante tensa com o corte de relações e a União Indiana a mostrar-se decidida a resolver o conflito pelas armas. Assim, na madrugada de 18 de Dezembro de 1961, as forças indianas penetraram em direcção à capital, com quarenta e cinco mil homens secundados pela aviação que entrava em acção quando os primeiros encontravam resistência e no mar uma esquadra fechava o cerco. A defesa dos territórios de Goa, Damão e Diu resumia-se ao exército com três mil e quinhentos homens, à marinha, com o aviso de 1.ªaclasse “Afonso de Albuquerque”, e três pequenas lanchas de fiscalização, e à força aérea, sem qualquer avião, uma vez que o chefe do governo português, Salazar, estava convencido de que Nehru, devido à sua política de pacifismo, nunca tomaria Goa pela força das armas, mas a sua convicção traiu-o.
Às sete horas foram bombardeados pela aviação os pontos estratégicos: as pistas do aeroporto de Dambolim e a Emissora de Goa em Bambolim, cortando as vias de comunicação aérea e rádio. O aeroporto foi novamente bombardeado às 7:30 e às 11:30. Ao meio dia, o aviso “Afonso de Albuquerque” avançou e travou uma batalha naval com a esquadra indiana que cercava a faixa costeira, mas ao fim de algum tempo ficou fora de combate, com o seu comandante varado por um estilhaço de granada, depois de ter atingido um dos barcos inimigos.
Na verdade, Afonso de Albuquerque em pessoa conquistou Goa em 1510 e agora era o navio de guerra com o nome desse capitão, que, honrando o nome a bandeira que ostentava, defendia heroicamente e até à exaustão o que ali conquistara. Com as forças indianas, após a queda da capital, Panjim, a fecharem o cerco ao último reduto, para onde se retirara o Governador Vassalo e Silva, que, devido à desproporção tremenda das forças, cercado por terra, mar e ar, se rendeu no dia 19, pelas 14 horas, para evitar um holocausto.
O general Ghaudhury, das forças indianas, deslocou-se pessoalmente ao hospital para felicitar o comandante do aviso, Capitão-de-mar-e-guerra, António da Cunha Aragão, pela sua bravura ao enfrentar os vasos de guerra indianos, e a Mormugão para cumprimentar e felicitar o General Vassalo e silva pela actuação das forças portuguesas, em Bicholim, Mapuça, Damão e Diu, não obstante os fracos meios que possuíam. Os militares ficaram prisioneiros e só em fins de Maio foram repatriados.
A perda desta preciosa jóia da coroa portuguesa, um rude golpe para Portugal, foi o início do desabar do resto do Império, que aos poucos e poucos se desfez, face à descolonização a partir de 1976, continuando apenas Macau, que em 1999 passa para a soberania chinesa.
No rincão tão querido do grande Albuquerque, a menina dos seus olhos, após quatro séculos e meio, deixou de flutuar a bandeira verde-rubra. Portugal regressou angustiado, mas deixou amizade e legou para a posteridade a sã convivência entre as três religiões – cristã, hindu e maometana – e ainda a cultura indi-portuguesa, resultante do convívio multi-secular, um misto de oriental e ocidental, profundamente enraizado nos hábitos, usos, costumes e tradições do pacífico, afável e hospitaleiro povo que constituiu o ESTADO PORTUGUÊS DA ÍNDIA, conhecido em outros tempos por ÍNDIA.