Segundo cerco de Diu - 1546

Diu é uma pequena ilha encravada na costa da península de Guzarate, limitada, pelo norte, pelas terras de Catiavar, entre o golfo da Cambaia e o Golfo de Catch.
A fortaleza de S. Tomé, construída em 1535, durante o governo de Nuno da Cunha, levanta-se no extremo oriental da ilha, em frente da cidade, a oeste.
D. João de Mascarenhas, em face dos preparativos bélicos do inimigo, guarnece os baluartes com 180 homens de que dispunha para a defesa. Era tão pouca gente para inimigo tão numeroso e experimentado! Além disso, começara o Inverno e o esperado socorro do vice-rei seria problemático, por causa do estado do mar naquela época do ano.
Por isso D. João de Mascarenhas determinara encerrar-se na fortaleza, evitando luta temerária em campo aberto, e recomendava o maior cuidado no gasto das munições, tanto mais que sabia que Coje-Sofar esperava novos e importantes reforços.
D. João de Castro, ao receber a comunicação do capitão de Diu, tomou imediatas providências. Em dois foram organizados os primeiros socorros, carregados os navios de material de guerra e recrutado o pessoal que, sob o comando de D. Fernando de Castro, filho do governador, rapaz de 18 anos, se fez à vela para Diu. No caminho se lhe juntaram mais duas embarcações com 80 espingardas.
Ao mesmo tempo, o governador mandou apregoar a guerra geral contra o rei de Cambaia, e consertar toda a armada, que há três anos não sofria reparações.
Entretanto, os Mouros levantavam muralhas de pedra solta, estremeada de terra, de onde combatiam os Portugueses. Estes sustentavam denodadamente os ataques, até que, a 18 de Maio, chegou D. Fernando, com oito fustas, pequenos barcos de fundo chato, que tinham vencido os tempos contrários. Grande alegria houve na fortaleza de S. Tomé, que tinha agora pouco mais de quinhentos defensores. Redobraram de intensidade os ataques: era mais eficaz a defesa portuguesa. Um pelouro perdido esmaga a cabeça de Coje-Sofar no dia 24 de Junho; sucede-lhe no comando o filho – Rumecão. Este acontecimento determinou a suspensão da luta durante oito dias, para começar com mais vigor, de parte a parte.
Na fortaleza, só duzentos homens estavam em condições de combater; os restantes tinham sido mortos ou feridos. O inimigo recebia constantemente reforços e de material, e redobrava de audácia. Era o dia 4 de Julho: o cerco durava há 64
dias. D. João de Mascarenhas escreve a D. João de Castro, pede-lhe reforços e aos capitães de Baçaim de Chaul. É portador da carta o arrojado sacerdote João Coelho que, com 12 marinheiros, expõe a vida, enfrentando os mares encapelados; ilude a vigilância inimiga; consegue chegar a Goa. E, enquanto ele vencia as ondas, os heróicos defensores de Diu continuavam a luta, mais acesa, mais próxima, ameaçadora da destruição total das muralhas de S. Tomé, que ruíam a pouco e pouco, perante os tiros certeiros e poderosos dos sitiantes. Estes, ousadamente, penetravam já na fortaleza, de onde não saíam, porque, denodadamente, homens e mulheres multiplicavam as forças para os matar. Dias houve em que, por dois ou três portugueses que eram mortos, desaparecia do número dos vivos mais de 1500 infiéis.
A 27 de Julho, Rumecão decide fazer um ataque simultâneo à fortaleza por quatro pontos diferentes: ia tentar uma escalada.
Os Portugueses, vigilantes, despejavam sobre os inimigos panelas de pólvora; silvavam as balas das espingardas; eram mortos às lançadas os que ousavam chegar às mãos dos sitiados. A derrota dos Mouros foi tremenda. Mudaram de táctica. Nem o bombardeamento da fortaleza, nem o assalto à escalada tinham aberto o caminho da vitória; decidiram, então, minar as muralhas para que o ruir delas lhes abrisse o caminho a uma luta corpo a corpo, onde esperavam que a superioridade esmagadora do número vencesse a indómita energia lusitana. Neste tempo, regressava a catur o sacerdote João Coelho, com material de guerra e cartas onde era anunciado o próximo socorro. A 19 de Julho recebera D. João de Castro a carta de Diu que lhe fora levada por terra. Manda aprontar 37 fustas, carrega-as de material de guerra e de mantimentos; nelas embarcam 400 homens sob o comendo do outro filho do governador, D. Álvaro de Castro, que partem de Goa a 30 daquele mês. Ao mesmo tempo, escreve a todas as fortalezas da costa indiana, chamando os portugueses para a expedição a Diu.
D. Álvaro parte de Chaul com mais oito fustas; encontra no mar D. Francisco de Meneses com outras dezasseis. Ao chegarem à barra de Diu, o temporal impedia-os de nela entrarem e retrocederam. No entanto, a luta não afrouxara.
Não havia já de comer nem remédios; a pólvora escasseava. Uma minha fez ir pelos ares o baluarte onde combatia D. Fernando e, nesse desastre, perdeu a vida aquele filho do governador, com 60 homens, no dia 10 de Agosto.
Imediatamente, ondas de atacantes se lançaram para a brecha, mas esta foi epicamente defendida pelos Portugueses que, ferindo e matando, não deixaram o inimigo penetrar na fortaleza. Pela noite adiante, o esforço prosseguiu sem tréguas; não era combater, mas desfazer as casas de habitação, para, com as pedras e material, levantar na parte derruída muro alto que impedisse a entrada dos Mouros.
Três dias depois, a 13, Rumecão comanda outro ataque à fortaleza, que é assaltada, de todos os lados, por multidão de infiéis. Não havia pólvora para lançar alcanzias sobre os assaltantes: tudo era combater às cutiladas e lançadas.
Do alto das muralhas, meio desmanteladas, as mulheres de Diu batalhavam como guerreiros.
O baluarte de S. Tomé foi minado; as muralhas ruíram. Mas os Portugueses desfaziam as casas para tapar as brechas e lutavam, lutavam sempre. Parte da fortaleza estava já ocupada pelos infiéis.
Não se dormia, nem se descansava: de dia, combates; de noite, obras de reparação.
Estavam os sitiados nesta situação desesperada, quando tiveram notícia de que a armada do socorro não tardaria. S. Álvaro chegou no dia 29 de Agosto com 28 fustas todas embandeiradas.
O rei de Cambaia procurava anular o socorro, e escrevia a Idalcão, a dizer-lhe que tinha tomado a fortaleza e que era a ocasião de ele se levantar contra os Portugueses e expulsá-los da Índia.
D. João de Castro apressou a sua vinda e, deixando a esquadra próximo, secretamente foi a Diu e tudo observou. Voltou novamente à armada e, no dia 6 de Novembro, entrou a barra. Os Portugueses, durante duas noites, passaram secretamente dos navios para a fortaleza, trepando por escadas pendentes das muralhas do lado do mar, enquanto os inimigos não cessavam o tiroteio, agora correspondido com maior frequência.
No dia 11 de Novembro, D. João de Castro desembarcou e determinou que na manhã seguinte se desse o assalto ao arraial inimigo.
Toda a noite os Portugueses se prepararam para o combate. A fortaleza ficava entregue a António Correia, com duzentos homens. Todos os restantes – 1500 soldados – iriam atacar os infiéis.
No mar, as embarcações esperavam o sinal combinado. Em terra, todos a postos, esperavam a hora da vitória. O governador afirma que não vem defender a fortaleza: vem castigar o inimigo; não quer lutar dentro das muralhas destruídas, mas no próprio campo dos sitiantes.
A vitória
Ao amanhecer no dia 11 de Novembro de 1546, três foguetes assinalaram o início da ofensiva. A este sinal, as fustas movimentaram-se, aproximaram-se de terra, simularam um desembarque; os sitiantes acorreram, levados por aquele engano.
Troou toda a artilharia montada na fortaleza de S. Tomé, e na armada portuguesa; os Mouros responderam também com violência.
As tropas saem da fortaleza, divididas em três comandos – de D. João de Mascarenhas, de Manuel Lima e de D. João de Castro – e atacam o arraial inimigo, todo muralhado e bem defendido. Faz-se a escalada com todo o arrojo e valentia, no meio de um ruído ensurdecedor e de uma gritaria infernal. Os sitiantes, após duas horas de luta feroz, recuam, são levados de vencida, fogem desordenadamente para a terra firme, perseguidos pelas forças portuguesas e pelos tiros certeiros da armada. Esta perseguição continua até quase ao meio-dia. Milhares de inimigos baquearam o campo de luta, seiscentos foram prisioneiros. Rumecão, o comandante dos infiéis, foi morto. Dos Portugueses, morreram quarenta e ficaram feridos cerca de trezentos.
Estava ganha a batalha! A cidade ficou deserta de inimigos. Terminara o cerco de Diu. Na tenda de Rumecão, foi encontrada a bandeira do rei de Cambaia, que D. João de Castro enviou a Goa, com uma carta, a anunciar a vitória. Pela cidade, amontoava-se muito material de guerra, armamento das mais variadas espécies, os despojos ricos e abundantes do acampamento. Tudo indicava a diversidade de povos que o rei de Cambaia tinha reunido para combater e expulsar os Portugueses.
Cerca de três mil combatentes portugueses, nesse dia de 11 de Novembro de 1546, tinham vencido mais de vinte mil soldados inimigos e dizimado ou obrigado a fugir uma população de infiéis superior a quarenta mil pessoas! Sete meses e meio, 225 dias, durara a luta constante, durante a qual os Portugueses rechaçaram todos os ataques, todos os assaltos, e durante os quais as mulheres de Diu, casadas, viúvas e solteiras, são simbolizadas por aquela Isabel Fernandes, que não descansava um momento a levar para a muralha alimentos e munições, a encorajar os defensores, a flagelar os assaltantes.
Esta façanha sem paralelo, que encheu de assombro a Europa inteira e de terror os inimigos de Portugal, foi imortalizada por Camões no Canto X de “Os Lusíadas”, em sonoras estrofes que terminam por estes dois versos:
“Feitos farão tão dignos de memória
Que não caibam em verso ou larga história”
A fortaleza de S. Tomé, construída em 1535, durante o governo de Nuno da Cunha, levanta-se no extremo oriental da ilha, em frente da cidade, a oeste.
D. João de Mascarenhas, em face dos preparativos bélicos do inimigo, guarnece os baluartes com 180 homens de que dispunha para a defesa. Era tão pouca gente para inimigo tão numeroso e experimentado! Além disso, começara o Inverno e o esperado socorro do vice-rei seria problemático, por causa do estado do mar naquela época do ano.
Por isso D. João de Mascarenhas determinara encerrar-se na fortaleza, evitando luta temerária em campo aberto, e recomendava o maior cuidado no gasto das munições, tanto mais que sabia que Coje-Sofar esperava novos e importantes reforços.
D. João de Castro, ao receber a comunicação do capitão de Diu, tomou imediatas providências. Em dois foram organizados os primeiros socorros, carregados os navios de material de guerra e recrutado o pessoal que, sob o comando de D. Fernando de Castro, filho do governador, rapaz de 18 anos, se fez à vela para Diu. No caminho se lhe juntaram mais duas embarcações com 80 espingardas.
Ao mesmo tempo, o governador mandou apregoar a guerra geral contra o rei de Cambaia, e consertar toda a armada, que há três anos não sofria reparações.
Entretanto, os Mouros levantavam muralhas de pedra solta, estremeada de terra, de onde combatiam os Portugueses. Estes sustentavam denodadamente os ataques, até que, a 18 de Maio, chegou D. Fernando, com oito fustas, pequenos barcos de fundo chato, que tinham vencido os tempos contrários. Grande alegria houve na fortaleza de S. Tomé, que tinha agora pouco mais de quinhentos defensores. Redobraram de intensidade os ataques: era mais eficaz a defesa portuguesa. Um pelouro perdido esmaga a cabeça de Coje-Sofar no dia 24 de Junho; sucede-lhe no comando o filho – Rumecão. Este acontecimento determinou a suspensão da luta durante oito dias, para começar com mais vigor, de parte a parte.
Na fortaleza, só duzentos homens estavam em condições de combater; os restantes tinham sido mortos ou feridos. O inimigo recebia constantemente reforços e de material, e redobrava de audácia. Era o dia 4 de Julho: o cerco durava há 64
dias. D. João de Mascarenhas escreve a D. João de Castro, pede-lhe reforços e aos capitães de Baçaim de Chaul. É portador da carta o arrojado sacerdote João Coelho que, com 12 marinheiros, expõe a vida, enfrentando os mares encapelados; ilude a vigilância inimiga; consegue chegar a Goa. E, enquanto ele vencia as ondas, os heróicos defensores de Diu continuavam a luta, mais acesa, mais próxima, ameaçadora da destruição total das muralhas de S. Tomé, que ruíam a pouco e pouco, perante os tiros certeiros e poderosos dos sitiantes. Estes, ousadamente, penetravam já na fortaleza, de onde não saíam, porque, denodadamente, homens e mulheres multiplicavam as forças para os matar. Dias houve em que, por dois ou três portugueses que eram mortos, desaparecia do número dos vivos mais de 1500 infiéis.
A 27 de Julho, Rumecão decide fazer um ataque simultâneo à fortaleza por quatro pontos diferentes: ia tentar uma escalada.
Os Portugueses, vigilantes, despejavam sobre os inimigos panelas de pólvora; silvavam as balas das espingardas; eram mortos às lançadas os que ousavam chegar às mãos dos sitiados. A derrota dos Mouros foi tremenda. Mudaram de táctica. Nem o bombardeamento da fortaleza, nem o assalto à escalada tinham aberto o caminho da vitória; decidiram, então, minar as muralhas para que o ruir delas lhes abrisse o caminho a uma luta corpo a corpo, onde esperavam que a superioridade esmagadora do número vencesse a indómita energia lusitana. Neste tempo, regressava a catur o sacerdote João Coelho, com material de guerra e cartas onde era anunciado o próximo socorro. A 19 de Julho recebera D. João de Castro a carta de Diu que lhe fora levada por terra. Manda aprontar 37 fustas, carrega-as de material de guerra e de mantimentos; nelas embarcam 400 homens sob o comendo do outro filho do governador, D. Álvaro de Castro, que partem de Goa a 30 daquele mês. Ao mesmo tempo, escreve a todas as fortalezas da costa indiana, chamando os portugueses para a expedição a Diu.
D. Álvaro parte de Chaul com mais oito fustas; encontra no mar D. Francisco de Meneses com outras dezasseis. Ao chegarem à barra de Diu, o temporal impedia-os de nela entrarem e retrocederam. No entanto, a luta não afrouxara.
Não havia já de comer nem remédios; a pólvora escasseava. Uma minha fez ir pelos ares o baluarte onde combatia D. Fernando e, nesse desastre, perdeu a vida aquele filho do governador, com 60 homens, no dia 10 de Agosto.
Imediatamente, ondas de atacantes se lançaram para a brecha, mas esta foi epicamente defendida pelos Portugueses que, ferindo e matando, não deixaram o inimigo penetrar na fortaleza. Pela noite adiante, o esforço prosseguiu sem tréguas; não era combater, mas desfazer as casas de habitação, para, com as pedras e material, levantar na parte derruída muro alto que impedisse a entrada dos Mouros.
Três dias depois, a 13, Rumecão comanda outro ataque à fortaleza, que é assaltada, de todos os lados, por multidão de infiéis. Não havia pólvora para lançar alcanzias sobre os assaltantes: tudo era combater às cutiladas e lançadas.
Do alto das muralhas, meio desmanteladas, as mulheres de Diu batalhavam como guerreiros.
O baluarte de S. Tomé foi minado; as muralhas ruíram. Mas os Portugueses desfaziam as casas para tapar as brechas e lutavam, lutavam sempre. Parte da fortaleza estava já ocupada pelos infiéis.
Não se dormia, nem se descansava: de dia, combates; de noite, obras de reparação.
Estavam os sitiados nesta situação desesperada, quando tiveram notícia de que a armada do socorro não tardaria. S. Álvaro chegou no dia 29 de Agosto com 28 fustas todas embandeiradas.
O rei de Cambaia procurava anular o socorro, e escrevia a Idalcão, a dizer-lhe que tinha tomado a fortaleza e que era a ocasião de ele se levantar contra os Portugueses e expulsá-los da Índia.
D. João de Castro apressou a sua vinda e, deixando a esquadra próximo, secretamente foi a Diu e tudo observou. Voltou novamente à armada e, no dia 6 de Novembro, entrou a barra. Os Portugueses, durante duas noites, passaram secretamente dos navios para a fortaleza, trepando por escadas pendentes das muralhas do lado do mar, enquanto os inimigos não cessavam o tiroteio, agora correspondido com maior frequência.
No dia 11 de Novembro, D. João de Castro desembarcou e determinou que na manhã seguinte se desse o assalto ao arraial inimigo.
Toda a noite os Portugueses se prepararam para o combate. A fortaleza ficava entregue a António Correia, com duzentos homens. Todos os restantes – 1500 soldados – iriam atacar os infiéis.
No mar, as embarcações esperavam o sinal combinado. Em terra, todos a postos, esperavam a hora da vitória. O governador afirma que não vem defender a fortaleza: vem castigar o inimigo; não quer lutar dentro das muralhas destruídas, mas no próprio campo dos sitiantes.
A vitória
Ao amanhecer no dia 11 de Novembro de 1546, três foguetes assinalaram o início da ofensiva. A este sinal, as fustas movimentaram-se, aproximaram-se de terra, simularam um desembarque; os sitiantes acorreram, levados por aquele engano.
Troou toda a artilharia montada na fortaleza de S. Tomé, e na armada portuguesa; os Mouros responderam também com violência.
As tropas saem da fortaleza, divididas em três comandos – de D. João de Mascarenhas, de Manuel Lima e de D. João de Castro – e atacam o arraial inimigo, todo muralhado e bem defendido. Faz-se a escalada com todo o arrojo e valentia, no meio de um ruído ensurdecedor e de uma gritaria infernal. Os sitiantes, após duas horas de luta feroz, recuam, são levados de vencida, fogem desordenadamente para a terra firme, perseguidos pelas forças portuguesas e pelos tiros certeiros da armada. Esta perseguição continua até quase ao meio-dia. Milhares de inimigos baquearam o campo de luta, seiscentos foram prisioneiros. Rumecão, o comandante dos infiéis, foi morto. Dos Portugueses, morreram quarenta e ficaram feridos cerca de trezentos.
Estava ganha a batalha! A cidade ficou deserta de inimigos. Terminara o cerco de Diu. Na tenda de Rumecão, foi encontrada a bandeira do rei de Cambaia, que D. João de Castro enviou a Goa, com uma carta, a anunciar a vitória. Pela cidade, amontoava-se muito material de guerra, armamento das mais variadas espécies, os despojos ricos e abundantes do acampamento. Tudo indicava a diversidade de povos que o rei de Cambaia tinha reunido para combater e expulsar os Portugueses.
Cerca de três mil combatentes portugueses, nesse dia de 11 de Novembro de 1546, tinham vencido mais de vinte mil soldados inimigos e dizimado ou obrigado a fugir uma população de infiéis superior a quarenta mil pessoas! Sete meses e meio, 225 dias, durara a luta constante, durante a qual os Portugueses rechaçaram todos os ataques, todos os assaltos, e durante os quais as mulheres de Diu, casadas, viúvas e solteiras, são simbolizadas por aquela Isabel Fernandes, que não descansava um momento a levar para a muralha alimentos e munições, a encorajar os defensores, a flagelar os assaltantes.
Esta façanha sem paralelo, que encheu de assombro a Europa inteira e de terror os inimigos de Portugal, foi imortalizada por Camões no Canto X de “Os Lusíadas”, em sonoras estrofes que terminam por estes dois versos:
“Feitos farão tão dignos de memória
Que não caibam em verso ou larga história”